Um Reinado de Rainhas - Морган Райс 5 стр.


Ele assiste enquanto a adaga atravessa o ar e finalmente se aloja no coração do soldado, perfurando sua armadura. O próprio aço do Império – melhor do que todos os outros – acaba de ser usado contra eles. Talvez, Darius pensa, eles devessem fazer armas menos afiadas.

O soldado se ajoelha com os olhos arregalados e então cai para o lado, morto.

Darius ouve um grito alto atrás dele e se levanta rápido, e ao se virar se depara com o capataz desmontando de sua zerta. Ele faz uma careta e joga sua espada no chão, partindo para cima de Darius com um grito de guerra.

"Agora serei obrigado a matar você com minhas próprias mãos," ele grita. "Mas eu não vou simplesmente matá-lo, eu vou torturar você e toda a sua família e sua vila inteira, bem lentamente!"

Ele ataca Darius.

Este capataz é obviamente um soldado melhor que os outros – mais alto e mais forte, e sua armadura é superior. Ele é um guerreiro endurecido, o maior guerreiro que Darius já havia enfrentado. Darius tem que admitir sentir medo daquele terrível adversário – mas ele simplesmente se recusa a demonstrar suas emoções. Em vez disso, ele está determinado a enfrentar seu medo, recusando-se a se permitir ser intimidado. Ele é apenas um homem, Darius repete para si mesmo. E todos os homens podem ser derrotados.

Todos os homens podem ser derrotados.

Darius ergue sua espada ao mesmo tempo em que o capataz parte para cima dele, golpeando com sua grande espada que brilha sob a luz enquanto ele a segura com as duas mãos. Darius desvia e bloqueia; o homem golpeia de novo.

De um lado para o outro, o soldado dá golpes e Darius bloqueia, e o barulho de metal invade seus ouvidos à medida que faíscas voam ao seu redor. O homem o empurra cada vez mais para trás, e Darius precisa de todas as suas forças apenas para bloquear seus golpes. Ele é forte e rápido, e Darius está preocupado demais apenas em se manter vivo.

Darius se defende de um golpe um segundo tarde demais, e grita de dor quando o capataz consegue atingi-lo e acaba cortando o seu braço. É apenas um ferimento superficial, mas a dor é real e Darius sente o sangue escorrendo – seu primeiro ferimento em uma batalha – e fica atordoado.

É um erro. O capataz tira vantagem de sua distração e o golpeia com sua manopla. Darius sente uma dor profunda no maxilar quando o metal encontra seu rosto e, ao ser jogado diversos metros para trás, ele curiosamente pensa que nunca mais vai parar no meio de uma batalha para verificar seus ferimentos.

Ao sentir o gosto de sangue em seus lábios, a fúria toma conta de Darius. O capataz – partindo para cima dele mais uma vez, é grande e forte, mas desta vez, sentindo dor em seu rosto e com gosto de sangue na boca, Darius não permite que isso o intimide. Os primeiros golpes da batalha tinham sido desferidos e, Darius percebe, por mais dolorosos que tivessem sido – não tinham sido nada maus. Ele ainda está em pé, ainda está respirando e ainda está vivo.

E isso significa que ele ainda pode lutar. Ele pode levar alguns golpes, e pode continuar lutando. Ser ferido não é tão ruim quanto ele havia imaginado. Ele pode ser menor e menos experiente, mas ele havia percebido que suas habilidades são tão boas quanto as de qualquer outro homem –  e igualmente mortais.

Darius solta um grito gutural e salta pra frente, encarando a batalha em vez de esperar por ela desta vez. Sem temer mais ser ferido, Darius ergue sua espada com um grito e golpeia seu oponente. O homem bloqueia o golpe, mas Darius não desiste e continua golpeando, e vai empurrando o capataz para trás apesar de sua força e tamanho.

Darius luta por sua própria vida, pela vida de Loti e a de todo o seu povo e, golpeando sem parar – mais rápido do jamais havia lutado antes, sem deixar o peso da espada de aço diminuir seu ritmo nem por um instante, ele finalmente encontra uma oportunidade. O capataz grita de dor quando Darius consegue feri-lo.

Ele se vira e olha para Darius, primeiro com surpresa e depois com uma expressão de vingança nos olhos.

Ele grita como um animal ferido e parte para cima de Darius. O capataz joga sua espada no chão e corre na direção de Darius, envolvendo-o em um abraço de urso. Ele derruba Darius no chão, apertando-o com tanta força que Darius derruba sua espada. Tudo acontece tão rápido – e é um movimento tão inesperado, que Darius não consegue reagir a tempo. Ele esperava enfrentar seu oponente com uma espada, e não em uma luta corpo a corpo.

Darius, pressionado contra o chão e gemendo, sente como se todos os ossos de seu corpo estivessem prestes a serem partidos. Ele grita de dor.

O capataz o aperta com mais força, e Darius tem certeza de que vai morrer. Ele então dá uma cabeçada em Darius e esmaga o seu nariz.

Darius sente o sangue escorrendo pelo seu rosto e é tomado por uma dor terrível que sobe pelo seu rosto e o deixa cego. Aquele é um golpe pelo qual ele não estava esperando, e quando o capataz joga a cabeça para trás para dar-lhe outra cabeçada, Darius, indefeso, tem certeza de que dessa vez ele será morto.

O barulho de correntes atravessa o ar e, de repente, os olhos do capataz se arregalam e ele solta Darius. Darius, ofegante, olha para cima perguntando-se por que ele o tinha soltado. Então ele vê Loti atrás do capataz, enrolando suas correntes em volta do pescoço dele várias vezes e apertando com toda a força.

Darius dá alguns passos para trás tentando recuperar o fôlego, e observa quando o capataz, cambaleante, estica os braços sobre os ombros, agarra Loti e, inclinando-se, puxa ela pra frente. Loti cai de costas no chão duro de terra, gritando.

O capataz dá um passo adiante, ergue a perna e coloca a bota em cima da cabeça dela, e Darius vê que ele está prestes a pisar em cima dela e esmagar o rosto de Loti. Eles estão a cinco metros de distância dele – longe demais para que Darius os alcance a tempo.

"NÃO!" ele grita.

Darius pensa rápido: ele estica o braço, pega sua espada e, dando um passo adiante e com um movimento rápido, ele a arremessa.

A espada atravessa o ar e Darius assiste, paralisado, quando a ponta de sua arma perfura a armadura do capataz – acertando-o bem no meio do coração.

Seus olhos se arregalam mais uma vez e Darius vê quando ele tropeça e cai – primeiro de joelhos e então de cara no chão.

Loti se levanta rapidamente, e Darius corre para o lado dela. Ele coloca o braço em volta dos ombros dela para confortá-la, grato e aliviado por ela estar bem.

De repente, um assobio agudo corta o ar; Darius se vira e vê o capataz, ainda deitado no chão, levar as mãos à boca e assobiar mais uma vez – a última, antes de finalmente morrer.

Um rugido horrível quebra o silêncio ao mesmo tempo em que o chão parece tremer.

Darius olha para trás e fica aterrorizado ao ver a zerta correndo repentinamente na direção deles. Ela corre descontroladamente, baixando seus chifres pontudos. Darius e Loti trocam olhares, sabendo que não há mais para onde ir. Dentro de instantes, Darius sabe, eles estariam mortos.

Ele olha ao seu redor, pensando rápido, e vê ao lado deles uma encosta íngreme, repleta de pedras e rochas. Darius ergue os braços com as palmas estendidas e coloca um braço em torno de Loti, segurando-a perto dele. Ele não quer invocar seus poderes, mas sabe que agora não lhe resta alternativa – não se ele quiser sobreviver.

Darius sente um forte calor atravessar seu corpo, um poder que ele mal consegue controlar, e assiste quando uma luz emana da palma de sua mão aberta na direção da encosta íngreme. Ele ouve um estrondo – a princípio gradual, e que se torna cada vez mais quando grandes rochedos rolam pela encosta, ganhando velocidade.

Uma avalanche de rochas avança para cima da zerta, esmagando-a antes que ela possa alcançá-los. Uma grande nuvem de poeira se ergue em meio ao barulho, e finalmente tudo se acalma.

Darius fica ali parado rodeado por nada além do silêncio e do pó – que brilha sob a luz do sol, sem conseguir compreender completamente o que tinha acabado de fazer. Ele se vira e vê Loti olhando para ele – vê o olhar de terror em seu rosto, e sabe que tudo havia mudado. Ele havia revelado seu segredo. E agora, não há mais volta.

CAPÍTULO SETE

Thor fica sentado na beirada do pequeno barco de pernas cruzadas e com as mãos repousando em suas coxas, de costas para os outros enquanto observa as águas frias do oceano cruel. Seus olhos estão vermelhos de tanto chorar, e ele não quer que seus companheiros o vejam assim. Suas lágrimas já haviam secado há muito tempo, mas seus olhos ainda ardem enquanto ele observa o mar – perplexo e se questionando sobre os mistérios da vida.

Como é que ele poderia ter tido um filho, apenas para que ele lhe fosse tirado daquela forma? Como alguém que ele ama tanto poderia ter desaparecido assim, sendo levado sem qualquer aviso ou chance de retorno?

A vida, Thor sente, é implacavelmente cruel. Será que não existe justiça no mundo? Por que seu filho não pode voltar para os seus braços?

Thor daria qualquer coisa – qualquer coisa - ele andaria por cima do fogo, morreria mil vezes – apenas para ter Guwayne de volta.

Thor fecha os olhos e balança a cabeça enquanto tenta bloquear a imagem do vulcão em chamas, do berço vazio e do fogo. Ele tenta bloquear a ideia da morte terrível e dolorosa de seu filho. Seu coração arde de ódio, mas acima de tudo de tristeza e vergonha, por não ter alcançado seu filho a tempo.

Thor também sente um vazio por dentro ao tentar imaginar seu encontro com Gwendolyn, quando ele teria que lhe dar a notícia. Ela certamente jamais voltaria a olhar em seus olhos. E ela jamais voltaria a ser a mesma pessoa que antes. É como se toda a vida de Thor tivesse sido tirada dele de uma só vez. Ele não sabe como reconstruí-la, como juntar os pedaços do que um dia havia existido. Como uma pessoa – ele se pergunta, pode encontrar outro propósito para sua vida?

Thor ouve passos, e sente o peso de um corpo ao seu lado quando o barco se movimenta, rangendo. Ele olha para o lado e fica surpreso ao ver Conven sentado ali, olhando para o mar. Thor tem a sensação de que não conversa com ele há muito tempo, desde a morte de seu irmão gêmeo. Ele fica feliz ao vê-lo ali. Enquanto olha para ele, Thor vê a tristeza em seu rosto e, pela primeira vez, ele o compreende. Ele finalmente entende.

Conven não diz uma palavra. Ele não precisa dizer nada. Sua presença é o bastante. Ele está ali por solidariedade, irmãos compartilhando a dor da perda.

Eles ficam sentados em silêncio por um longo tempo, sem qualquer barulho exceto o som do vento e das ondas batendo suavemente contra o barco – naquele pequeno barco à deriva no meio do imenso oceano, depois que a missão para encontrar e resgatar Guwayne havia esgotado todas as forças que eles ainda tinham.

Conven finalmente resolve falar.

"Não há um dia que passa em que eu não penso em Conval," ele diz com a voz embargada.

Eles continuam sentados em silêncio. Thor quer dizer algo, mas não consegue – emocionado demais para falar.

Finalmente, Conven continua. "Eu sinto muito por Guwayne. Eu gostaria de tê-lo visto crescer e se tornar um grande guerreiro, como você. Eu sei que ele teria sido como o pai dele. A vida pode ser trágica e cruel. Ela às vezes lhe dá algo apenas para lhe tirar depois. Gostaria de poder lhe dizer que me recuperei da perda de meu irmão – mas infelizmente isso não é verdade."

Thor olha para ele, sentindo uma estranha sensação de paz pela honestidade brutal de Conven.

"O que o mantém vivo?” Thor pergunta

Conven olha para água por um longo tempo, e então finalmente suspira.

"Acredito que é isso que Conval gostaria que eu fizesse," ele fala. "Ele gostaria que eu continuasse. Então aqui estou eu. Eu faço isso por ele. Não é por mim mesmo. Às vezes vivemos uma vida pelos outros. Às vezes não nos importamos o suficiente com nós mesmos, então vivemos nossas vidas pelos outros. Mas quanto mais o tempo passa, percebo que às vezes isso deve ser o suficiente."

Thor pensa em Guwayne, agora morto, e se pergunta o que seu filho gostaria que ele fizesse. Obviamente, ele gostaria que Thorgrin continuasse vivo, e cuidasse de sua mãe, Gwendolyn. Thor sabe disso. Mas em seu coração, aquela ainda é uma ideia difícil de aceitar.

Conven limpa a garganta.

"Vivemos por nossos pais," ele diz. "Por nossos irmãos. Por nossas esposas, filhos e filhas. Nós vivemos por todas as pessoas que nos rodeiam. E às vezes, quando a vida nos maltrata tanto que não nos resta qualquer motivo para continuar, isso deve bastar."

"Eu discordo," diz uma voz.

Thor olha para trás e vê Matus se aproximando e sentando do outro lado dele. Matus encara o oceano com um olhar sério e cheio de orgulho.

"Eu acredito que existe outra razão para vivermos," continua ele.

"E qual seria essa razão?" pergunta Conven.

"A fé." Matus suspira. "Meu povo, os homens das Ilhas Superiores, rezam para os quatro deuses das costas rochosas. Eles rezam para os deuses da água, do vento, do céu e das rochas. Esses deuses nunca responderam as minhas preces. Eu rezo para o antigo deus do Anel."

Thor olha para ele, completamente surpreso.

"Eu nunca conheci um homem das Ilhas Superiores que compartilhasse a mesma crença do Anel," comenta Conven.

Matus assente.

"Sou diferente do meu povo" ele responde. "Sempre fui assim. Eu queria me juntar à ordem monástica quando era mais jovem, mas meu pai nunca me deu permissão. Ele insistiu para que eu me juntasse ao exército, assim como meus irmãos."

Ele suspira.

"Eu acredito que vivemos pela nossa fé, e não pelos outros," ele afirma. "É isso que nos mantém vivos. Se nossa fé for forte o suficiente, realmente forte o bastante, então qualquer coisa pode acontecer. Até mesmo um milagre."

"E a fé pode trazer meu filho de volta para mim?" Thor pergunta.

Matus assente com a cabeça, inflexível, e Thor pode ver a certeza em seu olhar.

"Sim," Matus responde sem emoção. "Qualquer coisa."

"Você está mentindo," Conven diz indignado. "Você está lhe dando falsas esperanças."

"Não estou mentindo," retruca Matus.

"Você quer dizer que a fé pode trazer de volta meu irmão morto?" Conven insiste nervoso.

Matus suspira.

"Estou dizendo que toda tragédia é um presente," ele diz.

"Um presente?” Thor pergunta horrorizado. "Você quer dizer que a perda do meu filho é um presente?"

Matus concorda confiante.

"Você está recebendo um presente, por mais trágico que possa parecer. Você não sabe que presente é esse. E pode ser que não descubra por muito tempo. Mas um dia, você verá."

Thor se vira e volta a olhar para o mar, confuso e incerto. Seria tudo aquilo um teste? Ele se pergunta. Seria aquilo mais um dos testes de que sua mãe havia falado? A fé poderia mesmo trazer seu filho de volta? Ele quer acreditar naquilo. Ele realmente quer. Mas ele não sabe se sua fé é forte o bastante. Quando sua mãe havia falado sobre testes, Thor havia se sentido confiante de que poderia passar por qualquer teste à que fosse submetido; mas agora, sentindo-se daquela forma, ele não sabe se é forte o bastante para continuar.

O barco balança sobre as ondas e de repente a maré muda, e Thor sente o pequeno barco girar e começar a se mover na direção oposta. Ele para de pensar no passado e olha por cima do ombro, se perguntando o que estaria acontecendo. Reece, Elden e O'Connor estão remando e manejando a vela com olhares confusos no rosto, enquanto a pequena vela balança descontroladamente contra o vento.

"As Marés do Norte," Matus diz, em pé e com as mãos nos quadris enquanto olha para a distância, analisando o oceano. Ele balança a cabeça. "Isso não é um bom sinal."

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