Heroína, Traidora, Filha - Морган Райс 4 стр.


“Ela estava a fugir das salas de Ceres”, respondeu Elethe suavemente. A aia dele era uma boa a mentir. “Tu podes... eu preciso de dizer a alguém, mas não sei bem a quem.”

Aquilo era uma boa jogada. Então Ambos olharam para Elethe, enquanto tentavam decidir o que fazer a seguir. Foi quando Stephania revelou uma agulha em cada uma das suas mãos, atacando os pescoços dos guardas. Eles giraram, mas o veneno era de ação rápida, e os seus corações já o estavam a bombear pelos seus corpos. Uma arfada ou duas depois eles sucumbiram.

“Apanha as chaves”, disse Stephania, apontando para o cinto de um guarda.

Elethe fê-lo, abrindo as masmorras. Elas estavam cheias, quase a rebentar, como Stephania suspeitava que estivessem. Como ela esperava que estivessem, pelo menos. Não havia mais guardas, também. Aparentemente, todos aqueles com a capacidade de combater estavam nas muralhas.

Estavam lá homens e mulheres que eram, obviamente, soldados e guardas, torturadores e simplesmente nobres leais. Stephania viu ali algumas das suas próprias aias, o que lhe pareceu um pouco tolo. A jogada sensata não era insistir na lealdade delas, mas fingir servir o novo regime. O importante era que elas estavam ali.

“Lady Stephania?”, disse uma delas, como se ela não conseguisse acreditar no que estava a ver. Como se ela fosse a salvadora delas.

Stephania sorriu. Ela gostava de pensar que as pessoas a viam com uma heroína. Elas provavelmente fariam muito mais assim do que simplesmente por obediência, e ela gostava da ideia de virar as armas de Ceres contra ela também.

“Oiçam-me”, disse-lhes ela. “Tiraram-vos muitas coisas. Vocês tinham tanto, e aqueles rebeldes, aqueles camponeses, atreveram-se a surripiá-las. Eu digo que é hora de as surripiar de volta.”

“Estás aqui para nos tirar daqui?”, perguntou um antigo soldado.

“Eu estou aqui para fazer mais do que isso”, disse Stephania. “Nós vamos reconquistar o castelo.”

Ela não esperava aplausos. Ela não era uma romântica que precisava que tolos aplaudissem todas as suas decisões. Ainda assim, o murmúrio nervoso entre eles era um pouco irritante

“Estás com medo?”, perguntou ela.

“Vai haver rebeldes lá em cima!”, disse um nobre. Stephania conhecia-o. O Alto Reeve Scarel havia sempre sido suficientemente rápido a desafiar os outros para lutas quando sabia que conseguia ganhar.

“Não os suficientes para defender este castelo”, disse Stephania. “Agora não. Todos os rebeldes que podem ser poupados estão fora nas muralhas, tentando deter a invasão.”

“E o que dizer da invasão?”, quis saber uma nobre. Ela era um pouco melhor do que o homem que tinha falado. Stephania sabia segredos sobre o que ela havia feito antes de se casar com a riqueza que fariam com que a maioria dos que ali estavam corassem.

“Oh, estou a ver”, disse Stephania. “Preferem esperar num calabouço seguro que tudo acabe. Bem, e então? Na melhor das hipóteses, passam o resto das vossas vidas neste buraco fétido, se os rebeldes não decidirem matar-vos em silêncio quando eles perceberem o quão inconveniente os prisioneiros são. Se os outros ganharem... acham que ficarem numa cela os irá proteger? Vocês não irão ser nobres para eles aqui, apenas divertimento. Breves divertimentos.”

Ela fez uma pausa para deixar que eles interiorizassem. Ela precisava que eles se sentissem como covardes só mesmo por o considerarem.

“Ou podemos ir lá para fora”, disse Stephania. “Tomamos o castelo e apertamos o cerco aos nossos inimigos. Nós mataremos aqueles que se opuserem a nós. Eu já tratei de Ceres, pelo que ela não será capaz de nos deter. Nós ocupamos este castelo até que a rebelião e os invasores se matem uns aos outros, e, depois, conquistado Delos de volta.”

“Ainda há guardas”, disse um deles. “Há ainda lordes de combate aqui. Não podemos lutar contra os lordes de combate e vencer.”

Stephania gesticulou para Elethe, que começou a abrir as fechaduras das celas. “Há maneiras. Nós ganharemos mais armas com cada guarda que matemos, e todos nós sabemos onde o armeiro é. Ou podem ficar aqui e apodrecer. Vou fechar as portas e enviar alguns torturadores mais tarde. Não me importa quais.”

Eles seguiram-na, como Stephania sabia que eles o fariam. Não importava se eles o faziam por medo, orgulho ou mesmo lealdade. O que importava era que eles o faziam. Eles seguiram-na através do castelo, e Stephania começou a dar ordens, embora ela tivesse o cuidado de fazer com que soasse melhor do que isso, pelo menos por agora.

“Lorde Hwel, importas-te de levar alguns dos homens mais capazes e o quartel dos guardas?”, pediu Stephania. “Nós não queremos rebeldes a saírem.”

“E homens leais ao Império?”, perguntou o nobre.

“Posso prová-lo matando os outros traidores”, respondeu Stephania.

O nobre apressou-se a atender o seu comando. Ela mandou uma das suas aias reunir mais, e pediu a uma nobre para instruir aqueles servos que seriam obedientes às ordens de Stephania.

Stephania olhou ao redor para o grupo que estava com ela, julgando quem seria útil, quem tinha segredos que ela pudesse usar, cujas fraquezas os tornassem fáceis de controlar e perigosos. Ela mandou o nobre, que tinha sido tão bom a evitar uma luta, controlar as portas, e uma viúva rabugenta para a cozinha, onde ela não poderia fazer nenhum mal.

Eles juntavam as pessoas à medida que iam andando. Guardas e servos iam ter com eles quando ouviam, a sua lealdade a mudar com o vento. As aias de Stephania ajoelhavam-se diante de si e, em seguida, levantavam-se quando eram tocadas para irem nas suas próximas tarefas.

Ocasionalmente, eles encontravam rebeldes que não se submetiam, e esses morriam. Alguns morriam num tumulto de nobres, com as suas armas apreendidas, os seus corpos partidos quando eles eram espancados até a morte. Outros morreriam com uma faca a apanhá-los por trás, ou com um dardo envenenado a deslizar pela sua carne. As aias de Stephania tinham aprendido a ser boas nas suas tarefas.

Quando viu a rainha Athena, Stephania deu por si perguntando-se qual delas deveria ser.

“O que é isso?”, a rainha exigiu saber. “O que está a acontecer aqui?”

Stephania ignorou o seu lamuriar.

“Tia, preciso que descubras como é que as coisas estão a ir nos armeiros. Precisamos dessas armas. Imagino que o Alto Reeve Scarel já tenha encontrado uma luta.”

Ela continuou a andar na direção do grande salão.

“Stephania”, disse a rainha Athena. “Eu exijo saber o que está a acontecer.”

Stephania encolheu os ombros. “Eu fiz o que tu devias ter feito. Eu libertei estas pessoas leais.”

Era um argumento tão simples, e um tão puro, que não precisava de mais nada. Tinha sido Stephania a salvar os nobres. Era a ela que eles deviam a sua liberdade, e talvez as suas vidas.

“Eu estava presa também”, ripostou a rainha.

“Ah, é claro. Se eu soubesse, eu ter-te-ia resgatado, juntamente com os outros nobres. Agora, com licença. Eu tenho um castelo para conquistar.”

Stephania avançou a passos largos vigorosamente, porque a melhor maneira de ganhar um argumento era não dar ao oponente a hipótese de falar. Ela não se surpreendeu quando os outros que ali estavam a continuam a seguir.

Perto dali, Stephania ouviu os sons de uma luta. Fazendo sinal para aqueles com ela, ela dirigiu-se até um lance de escadas, em busca de uma varanda. Rapidamente encontrou o que estava à procura. Stephania conhecia a configuração do castelo tão bem como qualquer pessoa.

Abaixo, ela viu uma luta que provavelmente teria impressionado a maioria das pessoas. Uma dúzia de homens musculados, nenhuma daquelas duas armas ou armaduras combinavam, estavam a lutar no pátio diante do portão principal. Eles faziam-no contra pelo menos duas vezes mais guardas, talvez contra três vezes mais, antes da batalha começar, todos liderados pelo Alto Reeve Scarel. Mais do que isso, parecia que eles estavam a ganhar. Stephania conseguia ver os corpos espalhados pela calçada nas suas armaduras imperiais. O nobre que gostava de escolher os combates tinha escolhido um que seria relembrado durante muito tempo, parecia.

“Homem tolo”, disse Stephania.

Stephania observou por um momento, e, se ela tinha visto algum ponto a favor do Stade, ela provavelmente teria encontrado algum tipo de beleza selvagem nele. Enquanto ela observava, um homem com um grande machado esmagou o punho em dois homens e, depois, girou, apanhando um deles com a lâmina com força suficiente para quase o dividir em dois. Um lorde de combate que lutava com uma corrente saltou sobre um soldado, envolvendo-a ao redor do seu pescoço.

Foi uma atuação corajosa e impressionante. Talvez se ela tivesse pensado, ela poderia ter comprado uma dúzia de lordes de combate algum tempo antes e tê-los transformado em guardas-costas adequadamente leais. A única dificuldade teria sido a falta de subtileza. Stephania estremeceu quando respingos de sangue conseguiram subir quase até à borda da varanda.

“Eles não são magníficos?”, perguntou um dos nobres.

Stephania olhou para ela com tanto desprezo quanto conseguiu convocar. “Eu acho que eles são tolos.” ​​Ela estalou os dedos na direção de Elethe. “Elethe, facas e arcos. Agora.”

A serva assentiu e Stephania assistiu enquanto ela e alguns dos outros desembainhavam armas de arremesso e dardos. Alguns dos guardas que estavam com eles tinham arcos curtos retirados do armeiro. Um tinha uma besta de um navio, que seria melhor disparada apoiada numa plataforma do que numa varanda. Eles hesitaram.

“O nosso povo está lá em baixo”, disse um dos nobres.

Stephania tirou-lhe um arco leve das suas mãos. “E eles iam morrer de qualquer maneira, a lutar com lordes de combate tão mal. Pelo menos desta maneira, eles dão-nos uma hipótese de ganhar.”

Vencer era tudo. Talvez um dia, aqueles outros entendessem isso. Talvez fosse melhor se não o entendessem. Stephania não queria ter de matá-los.

Naquele momento, ela desembainhou o arco da melhor que conseguiu com a barriga inchada. Disparar para baixo assim, quase não importava que ela mal conseguisse puxá-lo para trás até meio. Certamente não importava ela não ter demorado tempo a apontar. Com tantos a combater lá em baixo, bastava-lhe que ela atingisse algo.

Mais do que isso, era suficiente para servir como um sinal.

Choviam flechas. Stephania viu uma a perfurar a carne do braço de um lorde de combate. Ele rugiu como um animal ferido antes de mais três o atingirem no peito. As facas caíam repentinamente cortando e roçando, cavando e escavando. Os dardos tinham veneno que provavelmente não tinha tempo para atuar antes dos alvos serem perfurados pelas flechas.

Stephania via soldados imperiais a cair juntamente com os lordes de combate. O Alto Reeve Scarel olhou para ela com um olhar acusador enquanto apalpava uma flecha que o tinha atingido através do estômago. Homens continuavam a cair sob as lâminas dos lordes de combate, ou encontravam falhas nas suas defesas, apenas para encontrar o seu momento de vitória interrompido pelo fogo das setas.

Stephania não se importava. Só quando o último lorde de combate caiu, é que ela ergueu a mão para que o assalto cessasse.

“Tantos...”, disse repentinamente uma das nobres, e Stephania circulou à volta dela.

“Não sejas tão tola. Nós tirámos o apoio a Ceres e conquistámos o castelo. Nada mais importa.”

“E Ceres?”, perguntou um dos guardas que ali estava. “Ela está morta?”

Os olhos de Stephania semicerraram-se com aquela pergunta, porque era a única coisa sobre aquele plano que a irritava.

“Ainda não.”

Eles tinham de manter o castelo até que a invasão estivesse terminada ou que os rebeldes, de alguma forma, encontrassem uma maneira de ganhá-lo de volta. Nessa altura, eles podiam precisar de Ceres como moeda de troca, ou mesmo apenas como um presente para que os Cinco Pedregulhos de Felldust pudessem mostrar a sua vitória. Tê-la ali, poderia até trazer Thanos, permitindo que Stephania se vingasse de tudo ao mesmo tempo.

Por enquanto, isso significava que Ceres não poderia morrer, mas ela ainda poderia sofrer.

E ela iria sofrer.

CAPÍTULO CINCO

Ceres estava a flutuar por cima de ilhas de pedra lisa e de beleza tão requintada que ela quase queria chorar. Ela reconheceu o trabalho dos Anciães, e, instantaneamente, deu por si a pensar na sua mãe.

Ceres viu-a então, algures à sua frente, ainda envolta numa névoa. Correu atrás dela, e viu-a a virar-se, mas parecia que ela não estava a conseguir alcançá-la suficientemente rápido.

Naquele momento, havia um espaço entre elas. Ceres saltou, estendendo a mão. Ela viu a sua mãe estender-lhe a mão, e, durante um momento, Ceres pensou que Lycine iria apanhá-la. Os dedos delas roçaram, e, depois, Ceres caiu.

Ela caiu no meio de uma batalha, com figuras agitando-se sobre ela. Os mortos estavam ali, e as suas mortes, aparentemente, não os impediam de combater. Lorde Oeste lutava ao lado de Anka, Rexus ao lado de uma centena de homens que Ceres havia matado em tantas lutas diferentes. Eles estavam todos em torno de Ceres, lutando entre si, lutando contra o mundo...

O Último Suspiro estava lá à sua frente, o antigo lorde de combate tão sombrio e aterrorizante como nunca. Ceres deu por si a saltar sobre o bastão de lâmina que ele empunhava, estendendo a mão para transformá-lo em pedra como ela havia feito antes.

Nada aconteceu daquela vez. O Último Suspiro atirou-a para o chão, ficando de pé sobre ela triunfo, e agora ele era Stephania, a segurar uma garrafa em vez de um bastão, com o fumo ainda acre nas narinas de Ceres.

Então ela acordou. A realidade não era melhor do que o seu sonho.

Ceres acordou a sentir a pedra dura. Por um momento, ela pensou que talvez Stephania a tivesse deixado no chão do seu quarto, ou pior, que ela ainda pudesse estar de pé sobre si. Ceres girou, tentando levantar-se e continuar a luta, apenas para perceber que não havia espaço para o fazer.

Ceres teve de se esforçar para respirar lentamente, lutando contra o pânico que ameaçava engoli-la quando ela viu paredes de pedra por todos os lados. Foi só quando ela olhou para cima e viu uma grade de metal em cima dela que ela percebeu que estava num poço e não enterrada viva.

O poço mal tinha largura suficientemente para ela se sentar. Seguramente não havia nenhuma maneira de ela se conseguir deitar ao comprido. Ceres estendeu a mão para cima, testando as barras da grade acima de si, fazendo força para dobrá-las ou parti-las.

Nada aconteceu.

Naquele momento, Ceres sentiu o pânico a crescer. Ela tentou alcançar o poder novamente, sendo gentil com ele, recordando como a sua mãe a tinha corrigido após Ceres ter esgotado os seus poderes a tentar conquistar a cidade.

Ela sentia-se da mesma forma, em alguns aspectos, e, no entanto, tão diferente em tantos outros. Antes, tinha sido como se os canais ao longo dos quais o poder fluía tivessem sido queimados até doerem demasiado para serem usados, deixando Ceres oca.

Agora, parecia que ela era simplesmente normal, apesar de isso não ser nada em comparação com o que ela tinha sido há pouco tempo. Não havia dúvida do que tinha provocado isso: Stephania e o seu veneno. Em algum lugar, de alguma forma, ela tinha encontrado um método para retirar de Ceres as forças que o seu sangue de Ancião lhe dava.

Ceres conseguia sentir a diferença entre aquilo e o que tinha acontecido antes. Tal tinha sido como a cegueira do clarão: muito em pouco tempo, desaparecendo lentamente com o cuidado certo. Aquilo era mais como ter os olhos arrancados pelos corvos.

Ainda assim, ela estendeu a mão para as barras novamente, na esperança de estar errada. Ela esforçou-se, colocando toda a força que conseguiu reunir na tentativa de as mover. Elas não cederam nem um pouco, mesmo quando Ceres as puxou com tanta força que as palmas das suas mãos sangraram contra o metal.

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