E Rupert havia pensado em uma maneira em que o Sr. Quentin poderia ser muito útil. Ele olhou à sua volta para o grupo de oficiais o acompanhando até que ele achou um com cabelo loiro que parecia ser do tamanho certo.
“Você, qual o seu nome?”
“Aubry Chomley, sua alteza,” disse o homem. Seu uniforme tinha uma insígnia de capitão.
“Bem, Chomley,” disse Rupert, “quão leal é você?”
“Completamente,” disse o outro homem. “Eu vi o que você fez contra o Novo Exército. Você salvou nosso reino, e você é o herdeiro legítimo ao trono.”
“Homem bom,” disse Rupert. “Sua lealdade te dá mérito, mas agora, eu tenho um teste para essa lealdade.”
“É só dizer,” disse o outro homem.
“Eu preciso que você troque de roupas comigo.”
“Sua alteza?” O soldado e o Sr. Quentin conseguiram falar quase que ao mesmo tempo.
Rupert tentou não demonstrar sua impaciência. “É simples. Chomley aqui irá com você no barco. Ele fingirá ser eu, e irá para as Colônias Próximas em meu lugar.”
O soldado parecia nervoso como se Rupert tivesse comandado um ataque à uma multidão de inimigos.
“Não… as pessoas não notarão?” disse o homem. “O governador não notará?”
“Por que ele notaria?” perguntou Rupert. “Eu nunca conheci o homem e o Sr. Quentin aqui vai testemunhar por você. Não vai, Sr. Quentin?”
O Sr. Quentin olhou para Rupert e para o soldado, claramente tentando calcular o plano de ação com mais probabilidade de manter sua cabeça.
Dessa vez, Rupert realmente perdeu a paciência. “Olha, é simples. Você vai para as Colônias Próximas. Você confirma que Chomley sou eu. Como eu ainda estou aqui, isso nos dará a chance de reunir o apoio que precisamos. Apoio que poderá te trazer de volta muito mais rápido do que se você for esperar que minha mãe esqueça um insulto.”
Essa parte pareceu chamar a atenção do outro homem. Ele assentiu. “Muito bem,” disse o Sr. Quentin. “Eu farei.”
“E você, Capitão?” perguntou Rupert. “Ou devo dizer General?”
Demorou um pouco para cair a ficha. Ele viu Chomley engolindo seco.
“O que você precisar, sua alteza,” disse o homem.
Demorou alguns minutos para acharem um edifício vazio entre os armazéns e galpões de barcos para que o capitão trocasse de roupa de modo que agora Chomley parecia… bom, honestamente, nada como um príncipe da realeza, mas com a recomendação do Sr. Quentin deveria ser suficiente.
“Vão,” comandou Rupert, e eles foram acompanhados de cerca de metade dos soldados para parecer mais autêntico. Ele olhou a sua volta para os outros, ponderando o que fazer agora.
Não haviam dúvidas que ele deveria sair de Ashton, mas ele teria de se mover cuidadosamente até estar pronto. Sebastian estava seguro o suficiente por enquanto. O palácio era grande o suficiente para se manter longe de sua mãe, pelo menos por um tempo. Ele sabia que tinha apoio. Era hora de descobrir o quanto, e quanto poder este apoio poderia comprar.
“Vamos,” ele disse aos outros. “Está na hora de decidir como tomar o que deveria ser meu.”
CAPÍTULO SEIS
“Eu sou a Lady Emmeline Constance Ysalt D’Angelica, Marquesa de Sowerd e Lady da Ordem dos Sash!” bradou Angelica, na esperança que alguém a ouvisse. Na esperança que seu nome completo chamasse atenção, se nada mais. “Eu estou sendo levada para ser morta contra minha vontade!”
O guarda a arrastando não parecia preocupado com isso, o que dizia a Angelica que não haviam chances de alguém a escutar. Ninguém que poderia ajudar, pelo menos. Em um lugar com tantas crueldades como este palácio, os criados já estavam há tempos acostumados a ignorar pedidos de ajuda, a serem cegos e surdos a menos que seus superiores ordenassem que não o fossem.
“Eu não vou deixa-lo fazer isso,” disse Angelica, tentando cravar o calcanhar no chão e permanecer onde estava. O guarda simplesmente a puxou de qualquer modo, a diferença de tamanho muito grande. Ela tentou ataca-lo em vez disso, e o tapa fez sua mão arder de dor. Por um momento o guarda relaxou, e Angelica tentou se virou para correr.
O guarda a agarrou de novo em um instante, batendo até a cabeça de Angelica girar.
“Você não pode… você não pode me bater,” ela disse. “As pessoas saberão. Você quer fazer com que isso pareça um acidente!”
Ele bateu nela novamente, e Angelica tinha a sensação de que ele o fez simplesmente pra provar que podia.
“Depois de você ter caído de um edifício, ninguém notará um hematoma,” ele disse. Ele a carregou então, a levantando sobre os ombros tão facilmente quanto como se ela fosse uma criança rebelde. Angelica nunca havia se sentido tão desamparada como naquele momento.
“Grite de novo,” avisou ele, “e eu te baterei de novo.”
Angelica não gritou, mesmo porque não parecia fazer qualquer diferença. Ela não havia visto ninguém pelo caminho até aqui, seja porque todos ainda estavam ocupados com o casamento que não aconteceu ou porque a Viúva havia cuidadosamente mantido todos longe em preparação para isso. Angelica não duvidava de que ela era capaz disso. A velha mulher planejava tão pacientemente e cruelmente quanto um gato esperando fora da toca do rato.
“Você não precisa fazer isso,” disse Angelica.
O guarda respondeu com um dar de ombros que a sacudiu. Eles subiram pelo palácio, por escadas em espiral que se estreitavam mais conforme eles subiam. A uma certa altura, o guarda teve que colocar Angelica no chão só para conseguir passar, mas ele manteve uma garra cruel em seus cabelos, a arrastando junto com uma intensidade que fez Angelica chorar de dor.
“Você poderia simplesmente me deixar ir,” disse Angelica. “Ninguém ficaria sabendo.”
O guarda bufou em resposta. “Ninguém notaria quando você surgisse de novo na corte, ou na casa da sua família? Os espiões da Viúva não saberiam que você está viva?”
“Eu poderia partir,” tentou Angelica. A verdade era que ela provavelmente teria que partir se ela fosse sobreviver. A Viúva não pararia de atentar contra a vida dela. “Minha família tem negócios tão longe do outro lado do mar que vocês raramente teriam notícias deles. Eu poderia desaparecer.”
O guarda não parecia mais impressionado com essa ideia do que com a última. “E quando um espião te mencionar? Não, eu acho que farei meu dever.”
“Eu poderia te dar dinheiro,” disse Angelica. Eles estavam cada vez mais no alto agora. Tão alto que, olhando para fora pelas janelas, ela podia ver a cidade abaixo arranjada como um brinquedo de criança. Talvez era assim que a Viúva visse a cidade: como um brinquedo a ser organizado para sua diversão.
Isso significava que eles deviam estar quase no telhado, também.
“Você não quer dinheiro?” exigiu Angelica. “Um homem como você não deve ganhar muito. Eu poderia te dar uma fortuna tão grande que te tornaria rico.”
“Você não pode me dar nada se estiver morta,” respondeu o guarda. “E eu não posso gastar nada se eu estiver.”
Havia uma pequena porta à frente, com liga de ferro e uma simples trava. Angelica pensou que o caminho para sua morte deveria ter mais drama, de alguma forma. Mesmo assim, só a visão da porta fez com que o medo aumentasse de novo, a fazendo recuar enquanto o guarda a puxava para frente.
Se Angelica tivesse uma adaga, ela a teria usado enquanto ele destravava e abria a porta deixando o vento frio de fora entrar contra eles. Se ela tivesse ao menos uma faca afiada de comer, ela teria tentado cortar a garganta do guarda, mas ela não tinha. Em seu vestido de casamento, ela não tinha. O máximo que ela tinha era alguns pós para retocar sua maquiagem, um sedativo em pó que estava lá para acalmar qualquer ameaça de nervosismo e… e era só isso. Isso era tudo que ela tinha.
“Por favor,” ela implorou, e ela não precisou fingir muito para parecer desesperada, “se dinheiro não serve, então que tal dignidade? Eu sou só uma jovem mulher, envolvida em um jogo que eu não queria. Por favor me ajude.”
O guarda a puxou para fora para o telhado. Era plano, com crenulados que não tinham nada a ver com uma defesa de verdade. O vento batia contra o cabelo de Angelica.
“Você espera que eu acredite em alguma dessas coisas?” perguntou o guarda. “Que você é só uma coisinha inocente? Você conhece as histórias que eles contam sobre você pelo palácio, minha lady?”
Angelica conhecia a maioria delas. Ela fazia questão de saber o que as pessoas falavam sobre ela para poder vingar-se delas mais tarde.
“Eles dizem que você é vaidosa e que você é cruel. Que você destruiu pessoas só por terem falado com você usando o tom de voz errado, e providenciou que seus rivais fossem despachados com a marca do orfanato tatuada neles onde não existia marca antes. Você acha que merece misericórdia?”
“Essas são mentiras,” disse Angelica. “Elas são—”
“Eu não ligo muito de qualquer forma.” Ele a puxou até o parapeito. “A Viúva me deu ordens.”
“E o que ela fará depois de você tê-las cumprido?” exigiu Angelica. “Você acha que ela te deixará viver? Se a Assembleia descobrir que ela assassinou uma mulher nobre, ela será deposta.”
O homem grande deu de ombros. “Eu já matei por ela antes.”
Ele disse isso como se fosse nada, e Angelica sabia que iria morrer. O que quer que ela dissesse, o que quer que ela tentasse, esse homem a iria matar. Ao que parecia, ele iria gostar também.
Ele empurrou Angelica para trás em direção à beira, e ela sabia que seriam poucos momentos antes dela cair. Inexplicavelmente, ela se pegou pensando em Sebastian e os pensamentos não eram cheios de ódio como deveriam ser, considerando que ele a havia abandonado. Angelica não conseguia entender por que, quando ele não era nada além do homem que ela tinha escolhido como marido para poder avançar de posição, um homem que ela estava preparada a atrair à cama usando um pó sedativo…
Uma ideia surgiu. Era uma ideia desesperada, mas naquele momento, tudo era desesperado.
“Eu posso te oferecer algo mais valioso que dinheiro,” disse Angelica. “Algo melhor.”
O guarda riu, mas ainda assim, ele parou. “O quê?”
Angelica estendeu a mão até seu cinto, tirando a pequena caixa de rapé de sedativo, erguendo-a como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. O guarda permitiu, encarando fascinado enquanto ele tentava descobrir o que era. Muito delicadamente, Angelica abriu a caixa.
“O que é isso?” exigiu o guarda. “Isso parece—”
Angelica soprou fortemente, dispersando o pó na cara do guarda levando-o a engasgar. Ela desviou para a esquerda enquanto ele tentava agarra-la, na esperança de se esquivar enquanto ele ainda lidava com o pó em seus olhos. Uma grande mão pegou no seu braço, e os dois caíram contra a beirada do telhado do palácio.
Angelica não sabia qual efeito o sedativo teria. Tinha funcionado rapidamente toda vez que ela tinha usado, mas normalmente era coisa de pequenas doses e efeitos leves. O que uma dose tão grande faria com um homem daquele tamanho, e teria ela tempo suficiente para fugir antes que isso acontecesse? Angelica já sentia a beira do telhado contra suas costas, o céu visível enquanto o grande homem a pressionava.
“Eu vou te matar!” o guarda urrou, e no máximo Angelica podia dizer que suas palavras soavam um pouco enroladas. Estaria ele enfraquecendo? Estaria ele a empurrando um pouco menos?
Ela estava tão para trás agora que podia ver o chão abaixo dela, e alguns criados e nobres espalhados. Mais um segundo, e ela estaria caindo, para colidir com as pedras do pátio e arrebentar-se tão certamente como uma taça derrubada.
Naquele segundo, Angelica sentiu a garra do guarda enfraquecer. Não muito, mas o suficiente para ela conseguir se virar e escapar dele, o colocando com suas costas para o céu.
“Você deveria ter aceitado o dinheiro,” ela disse, e se inclinou para frente, empurrando-o com toda sua força. O guarda balançou na beira por um segundo, então tombou para trás, seus braços se debatendo contra o ar.
Não só o ar. Com um braço ele conseguiu agarra-la, e Angelica se encontrou empurrada para frente, sobre o parapeito. Ela gritou, se agarrando em qualquer coisa que conseguisse. Seus dedos encontraram pedaços de pedras, perderam o apoio, e depois o encontraram novamente enquanto o guarda continuou a cair abaixo dela. Angelica olhou para baixo apenas o tempo necessário para seguir sua queda até o chão. Ela sentiu um breve momento de satisfação quando ele atingiu o chão, rapidamente substituída pelo terror por estar dependurada na parede do castelo.
Angelica arranhava a parede, tentando encontrar um apoio, algo a mais para se segurar. Seus pés pairaram no ar por um momento, e então conseguiram achar apoio no lado áspero de um escudo heráldico forjado em pedra. Angelica notou com ironia que era o brasão real, e não pode deixar de sentir alívio por encontra-lo. Sem ele, ela sem dúvidas agora estaria tão morta quando a Viúva desejava que ela estivesse.
A escalada de volta ao telhado pareceu demorar uma eternidade, os músculos de Angelica queimando com o esforço inesperado. Lá embaixo, ela podia ouvir gritos agora, enquanto pessoas começavam a reunir-se em torno do guarda caído. Sem dúvidas, alguns deles estariam olhando para cima, a observando voltar ao telhado, cair e ficar ali deitada, respirando ofegante.
“Levante-se,” ela disse a si mesma. “Você estará morta se ficar aqui. Levante-se.”
Ela se forçou a levantar, tentando pensar. A Viúva tinha tentado mata-la. A coisa óbvia a se fazer era correr, por que quem poderia se levantar contra a Viúva? Ela tinha que encontrar uma saída do palácio, talvez chegar até as docas e partir para as terras de sua família no exterior. Isso ou escapar através de um dos atalhos da cidade, evitando qualquer vigia que tivesse sido colocado a posto e saindo do país. Sua família era poderosa, com o tipo de amizades que poderiam fazer perguntas sobre isso na Assembleia dos Nobres, que iriam—
“Eles farão o que a Viúva mandar,” Angelica disse a si mesma. Mesmo se eles agissem, seria tão devagar que ela sem dúvidas seria assassinada no meio tempo. O melhor que ela poderia fazer era correr e continuar correndo, nunca estando segura, nunca estando no centro das coisas novamente. Era uma solução inaceitável para tudo isso.
O que a trouxe de volta à sua pergunta anterior: quem poderia se levantar contra a Viúva?
Angelica se espanou cuidadosamente, arrumando seu cabelo do modo mais perfeito possível enquanto ela falava consigo mesma. Esse plano era… perigoso, sim. Desagradável, quase com certeza. Mas era a melhor chance que ela tinha.
Enquanto as pessoas lá embaixo berravam, ela começou a correr de volta para o palácio.
CAPÍTULO SETE
Os olhos de Sebastian estavam começando a se acostumar à quase escuridão de sua cela, a umidade, e até o fedor dela. Ele estava começando a se adaptar ao leve gargarejo de água em algum lugar à distância e o som de pessoas indo e vindo de longe. Este era provavelmente um mau sinal. Haviam lugares com os quais ninguém deveria se acostumar.
A cela era pequena, só alguns metros em cada lado, com uma frente de grades de ferro, trancada por uma fechadura maciça. Essa não era qualquer prisão confortável em uma torre, onde a família de um homem poderia pagar para mantê-lo com estilo até que finalmente chegasse a hora de perder a cabeça. Esse era o tipo de lugar que um homem era jogado para que o mundo se esquecesse dele.
“E se eu for esquecido,” sussurrou Sebastian, “Rupert fica com a coroa.”
Isso tinha que ser o porquê disso. Sebastian não tinha dúvidas quanto a isso. Se seu irmão o fizesse desaparecer, se ele fizesse parecer como se Sebastian tivesse fugido para nunca mais voltar, então Rupert se tornaria o herdeiro do trono por definição. O fato de ele não ter matado Sebastian ainda sugeria que isso era suficiente para ele; que ele poderia soltar Sebastian uma vez que conseguisse o que queria.