Conquista Da Meia-Noite - Burnz Arial 2 стр.


Evangeline choramingou e caiu de joelhos.

— Querido Pai do céu, como pôde me escolher para enfrentar meu marido? Ele com certeza irá escolher o caminho das trevas se for eu aquela a mostrar a luz. Por que não pôde enviar outra pessoa?

A raiva invadiu seus sentidos.

Broderick se levantou, deu um passo na direção dela. A dor crescente em seu coração ameaçou afogá-lo como uma torrente de ondas, e ele lutou contra as lágrimas que ardiam nos olhos. Veria a luz expirar dela como testemunhou acontecer com Maxwell e Donnell.

Evangeline arfou e ergueu as palmas das mãos, continuou seu devaneio com uma rápida sucessão de palavras.

Broderick bateu em uma parede invisível e caiu no chão. Contorcendo-se em agonia, a raiva desapareceu. Através de uma nuvem turva de consciência, ele cambaleou enquanto os dois guardas Vamsirianos o ajudaram a se sentar na cadeira, antes de voltar para o canto. Evangeline baixou as mãos e permaneceu ajoelhada no chão de pedra do outro lado do cômodo. Assim que voltou a si, ele limpou a garganta.

— O que é essa magia, bruxa?

Ela franziu a testa.

— Não sou uma bruxa, Broderick. Sou membro do Tzava Ha'or: o Exército da Luz. Deus nos deu certas medidas de proteção contra… — ela franziu os lábios e baixou o olhar, uma respiração trêmula sacudiu seus ombros, e ela ergueu o queixo, encarando-o com os olhos cheios de lágrimas. — Contra o sangue dos amaldiçoados.

Broderick agarrou os braços da cadeira para se levantar, mas lembrou-se do último encontro dele com a proteção de Deus e reconsiderou.

— Como pode estar viva e entre aqueles que deveriam ser filhos especiais de Deus? — ódio temperava cada sílaba que ele conseguiu dizer entredentes, ela implorou com os olhos, o que só o fez tremer ainda mais de raiva e tristeza: — Por que você ainda vive?

— Eu corri… — ela sussurrou em meio às lágrimas, revivendo o passado. —, corri para longe da batalha, floresta adentro, por horas. Quando caí de exaustão, fui atacada por ladrões que… — ela fechou os olhos e engoliu em seco. — forçaram-se a mim e me deixaram para morrer.

— E mesmo assim se ajoelha diante de mim. — Broderick lutou contra a simpatia que sentia. — Continue.

— Não sei quanto tempo fiquei ali deitada, mas acordei e fui, aos tropeços, para a estrada, onde um grupo de monges quase me atropelou com uma carroça. Eles me levaram para um convento onde as irmãs cuidaram de mim; onde me tornei um membro do Exército da Luz. — Evangeline olhou para Broderick com uma centelha de esperança em seus olhos vidrados. — Fui ensinada que Nosso Senhor é um Deus que perdoa e ama, Broderick. Por favor, não dê as costas a Ele escolhendo este caminho das trevas. Ele pode curar você e perdoar tudo. Perdoou até a mim!

Eu não! — ódio sacudia seus membros e deu-lhe força para resistir à agonia que rasgava seu corpo, tremor quebrou suas palavras. — Acredita que todas as vidas que tirou com sua traição podem ser ignoradas com tanta facilidade? Você é a razão para eu estar aqui buscando vingança contra meu inimigo, alguém cuja cama você compartilhou. Permanece nos braços protetores de Deus enquanto meu corpo morre como um escravo de sangue.

— Deus pode curar você, Broderick! Ele libertou outros que se tornaram escravos de sangue. Junte-se ao Exército da Luz e Ele pode curá-lo.

Os dois guardas Vamsirianos flanquearam Broderick quando ele fez menção de ir na direção dela. Ele lutou com os braços deles, contra a angústia de sua alma, contra a injustiça que atormentava a vida dele sem cessar.

— Você está louca ao pensar que eu aceitaria de você, ou de um Deus que abriga traidores. Deveria estar morta, mas está sentada diante de mim, oferecendo-me a salvação. Supôs que eu iria perdoá-la só por ser a portadora de tal oferta?

Evangeline fez uma reverência e balançou a cabeça.

— Não. — ela sussurrou. — Também estou surpresa por estar viva. Como tal, ainda sou sua esposa, e você detém o direito de fazer comigo o que quiser.

Evangeline ergueu as mãos de novo, murmurando outra série de frases estranhas.

Broderick respirou melhor com a diferença perceptível na atmosfera, a pressão diminuindo em seu corpo. Os Vamsirianos ao seu lado também olharam ao redor, admiração em seus olhos. A parede invisível que ela havia erguido deve ter caído. Broderick tentou avançar, mas os Vamsirianos o contiveram. Incapaz de lutar contra eles, ele se rendeu.

— Escolho o caminho da imortalidade, tornando-me assim, morto para você. Já que Deus perdoou suas transgressões, tenho certeza de que a igreja anulará nosso casamento patético. Deus é seu marido agora e que ambos sofram as consequências disso!

Evangeline caiu no chão aos prantos enquanto escoltavam Broderick para fora dali.

Posicionando-o diante do Conselho mais uma vez, os dois Vamsirianos soltaram Broderick, e ele reuniu toda força que pôde para permanecer de pé.

— Escolhi me tornar um Vamsiriano. — ele anunciou com uma voz rouca.

Broderick olhou para Angus que, para sua surpresa, exibia um sorriso de satisfação nos lábios.

Os Anciões assentiram e se voltaram para Cordelia, ela se adiantou e olhou para Angus. O medo dominava seus olhos, e ela cruzou os braços sobre os seios fartos, voltando-se para o Conselho.

— Eu revogo minha reivindicação sobre Broderick MacDougal.

Os olhos do Ancião Rasheed se arregalaram, assim como os de seus colegas.

— Está afirmando que não deseja transformar Broderick MacDougal, razão pela qual fomos convocados?

Cordelia deu um passo para trás e engoliu em seco.

— Sim. — respondeu com uma voz trêmula.

O Ancião Rasheed se levantou, e Cordelia teve sensatez suficiente para se encolher.

— Testa minha paciência, mulher! Ainda posso decidir esfolá-la viva!

— Ancião Rasheed, se me permite.

Angus deu um passo à frente, descruzando os braços.

Rasheed suspirou resignado.

— Sim, Angus Campbell. — ele disse com um aceno de desprezo. — Como requisitado, a princípio, ao vir perante o conselho, esta pobre criatura é sua para fazer como desejar. Acabe com sua miséria.

Sentando-se, Rasheed colocou a cabeça entre as mãos.

— Não, Ancião Rasheed. — Angus olhou para Broderick. — Estou propondo que eu mesmo faça a transformação.

Os olhos arregalados de Broderick não foram os únicos a fazer com que todos prestassem atenção em Angus Campbell.

— Por que faria uma coisa dessas? Enfim tem a oportunidade de se livrar de minha existência. Aproveite e faça o que o Ancião Rasheed aconselha… acabe com meu sofrimento.

Broderick estremeceu com uma onda de dor.

— Embora eu goste de vê-lo sofrer — Angus zombou. —, não há nenhuma satisfação em matá-lo em um estado tão fraco. Meu espírito nunca descansará. — Angus se aproximou de Broderick, sorrindo com malícia para seu corpo curvado e profanado. — Deve estar disposto a fazer a transformação, Rick, ou não posso realizar a ação. Qual é a sua escolha?

Broderick olhou para todos, o olhar de Cordelia concentrado nele. Todos pareciam estar prendendo a respiração, esperando que ele dissesse a palavra.

— Viva para lutar outro dia! — Angus debochou. — Seja um oponente digno.

Broderick olhou para os olhos zombeteiros de seu inimigo. Um longo silêncio se estendeu entre eles, denso com oposição. As almas de seus irmãos, suas esposas e seus filhos pequenos clamavam, desde os confins de sua alma, por vingança.

— Vá em frente. — Broderick rosnou. — Porém, se arrependerá desta decisão.

Angus deu uma risada e esperou pela aprovação de Rasheed, que apenas observava o absurdo da cena. Com apenas um aceno de cabeça do Ancião, Angus se lançou sobre Broderick, trouxe a cabeça dele para trás com um puxão feroz em seus cabelos e afundou as presas no pescoço sensível de Broderick. Ele gritou e arranhou quando Angus cortou sua garganta. No entanto, a dor que percorreu seu corpo e queimou seu pescoço logo desapareceu para dar lugar à euforia de se alimentar, assim como havia sentido com Cordelia, e Broderick caiu nos braços de Angus. O contato com Angus se estendeu em uma névoa profunda. Cordelia costumava sondar sua mente quando bebia dele, mas não vivenciou nada disso com Angus. Broderick escorregava mais fundo em direção à morte, a vida se esvaindo. Angus poderia, muito bem, drenar sua vida e matá-lo.

Por fim, Angus interrompeu o contato e baixou Broderick ao chão.

Rasheed parou e entregou a Angus uma adaga de cabo preto. Cortando um dos pulsos, Angus estendeu a ferida aberta para que Broderick bebesse. Mas Broderick não conseguia abrir a boca e aceitar o sangue Vamsiriano que escorria por seu queixo. Era melhor ele recusar e morrer logo.

— Fez essa escolha, Rick! — Angus latiu e voltou a cortar o pulso que se curava com rapidez. — Abra a boca!

Antes que Broderick pudesse se deleitar com o triunfo por derrotar Angus, o cheiro do sangue assaltou seus sentidos, e ele abriu a boca para receber a imortalidade. Bebeu com vontade e ofegou quando Angus puxou o pulso para cortá-lo mais uma vez.

— Sim, Rick. — Angus o persuadiu enquanto Broderick fechava a boca ao redor do corte, tomando goles grandes do líquido vital.

Seu corpo voltou a recuperar a força, uma sensação calmante moveu-se por suas veias, o sangue alcançava seus membros, a garganta formigou. Angus puxou a mão. Embora Broderick ainda não conseguisse fazer seu corpo responder aos próprios desejos, ele ficou maravilhado com os sentidos aguçados. A respiração dos guardas Vamsirianos do outro lado da sala vibrou contra seus ouvidos. O aroma delicado de verbena, de Cordelia, tocou seu nariz como quando ele se alimentou dela. As veias na mesa de mármore preto pareciam brilhar, as fraturas do tamanho de um fio de cabelo eram visíveis com sua nova visão.

Angus se virou para Rasheed, enxugando a boca com um lenço.

— Por que não pude ler a mente dele? Por que não pude colher todas as memórias?

Cordelia sorriu e cerrou os punhos ao lado do corpo, alegria iluminando seus olhos.

— Porque meu sangue governa o corpo dele. Você não pode colher memórias que pertencem a outro Vamsiriano, Angus. Queria ganhar tal vantagem sobre Broderick, saber tudo sobre ele, mas não conseguiu porque ele foi meu Escravo de Sangue.

Ela parecia feliz ao fazer uma revelação tão particular. Broderick estremeceu e convulsionou no chão, enquanto os dois enormes Vamsirianos interrompiam o momento de alegria de Cordelia. Flanqueando-a, eles agarraram seus braços e a escoltaram para fora da sala:

— Meu senhor — ela protestou e se soltou das mãos que a agarravam pelos pulsos. — Meu senhor, por favor!

As objeções de Cordelia desapareceram por trás da porta fechada, deixando a sala em um silêncio pesado, e Broderick ponderou o envolvimento de Cordelia nesta farsa. Ela sabia que Angus faria a transformação, embora não soubesse dos resultados. Por que essa informação causou tanta euforia nela?

Rasheed contemplou Broderick deitado no chão de pedra com os olhos semicerrados. Após um longo momento, os Anciões saíram da sala pela mesma porta em que Cordelia desaparecera, nenhum deles proferiu uma única palavra. Angus estava de pé acima do corpo de Broderick, tremia de revolta devido ao sangue Vamsiriano que purgava o que restava de sua humanidade. O cheiro de seu inimigo, um distinto toque almiscarado, flutuou ao redor de Broderick, e ele guardou o aroma na memória.

— Irmãos por toda a eternidade agora, para sempre unidos por sangue. — ajoelhando-se ao lado de Broderick, Angus sussurrou: — Vou lhe dar esta vantagem, Rick, tempo para conhecer o que se tornou. Use-a com sabedoria. Assim que souber o que precisa, vou caçá-lo.

Levantando-se, Angus assentiu e se encaminhou para a saída.

— Não se eu encontrar você primeiro. — Broderick sorriu com vontade enquanto estremecia e olhava carrancudo para Angus, que marchava para fora do Salão Principal.

Stewart Glen, Escócia — Final do outono, 1505 — Dezenove anos depois

Os olhos de Davina Stewart dançaram de alegria ao vislumbrar as barracas e caravanas coloridas do acampamento cigano. Tantos cheiros exóticos passeavam por seus sentidos, a boca se enchia d'água em um momento, e ela deu um suspiro de prazer no seguinte. Entre as tochas e fogueiras bruxuleantes, acrobatas se contorciam, malabaristas lançavam bastonetes flamejantes para o alto, e mercadores agitavam seus produtos, trazidos de todo o mundo, para os transeuntes. O pai de Davina, Parlan, e o irmão dela, Kehr, pediram licença e se dirigiram aos cavalos que os ciganos expuseram à venda.

— Davina. — sua mãe, Lilias, pressionou a mão no braço de Davina e gesticulou na direção de uma tenda ao longe. — Myrna e eu estaremos naquela barraca. Pretendo comprar um presente para o seu pai antes que ele e seu irmão voltem. Fique perto de Rosselyn e não se distancie.

— Sim, senhora. — observando a mãe e Myrna darem os braços e se afastarem, Davina apertou a mandíbula para conter a empolgação.

Rosselyn estava com a boca aberta.

Davina pigarreou.

— Se quiser ficar aqui encarando nossas mães, então vai ficar sozinha. Eu, por exemplo, não vou perder esta rara oportunidade de explorar minha liberdade. — Davina se virou e correu na direção oposta para colocar alguma distância entre ela e a mãe.

Rosselyn correu para alcançá-la e deu o braço a Davina.

— Como sua criada e guardiã nomeada, preciso lembrá-la que sua mãe avisou para não se distanciar?

— Acredita que ela nos deixou explorar? — Davina estava maravilhada, e as risadas jorraram por entre as mãos apesar de suas tentativas de cobrir a boca.

— Não explora o suficiente quando visita seu irmão na corte? — Rosselyn colocou um cacho castanho desgarrado sob a touca.

— Bah! — Davina zombou, imitando a exclamação favorita de seu irmão. — A corte é um lugar horrível para se estar, sei bem. As mulheres se caluniam, fingem serem amigas, e toda a conversa gira em torno de saias levantadas e encontros secretos com rapazes bonitos no jardim. — Calor subiu ao rosto de Davina ante a fala ousada.

Rosselyn deu uma risadinha.

— Davina Stewart, você está corando! E deve mesmo! Sua mãe iria açoitá-la se a ouvisse falando dessa maneira.

— Na corte, Ma me mantém por perto, então não, também não exploro muito lá. Vou deleitar-me com a minha liberdade esta noite! — Davina riu, mas a alegria desapareceu ao perceber a impressão que sua fala deixava. — Ora, não me entenda mal. Eu adoro a mamãe, mas…

— Sim, ela quase nunca permite que fique fora do alcance dela, muito menos de vista.

Rosselyn era dois anos mais velha que os treze de Davina e crescera em sua casa. Foi natural que ela assumisse o papel de criada de Davina, já que a mãe da menina, Myrna, era a criada de Lilias. Embora Rosselyn cumprisse bem as tarefas de sua posição, Davina amava a garota mais velha como uma irmã.

Pegando emprestada a ideia da mãe, Davina arrastou Rosselyn para examinar as mercadorias das tendas, procurando comprar presentes para sua família. Uma adaga de bota com um delineado fino chamou sua atenção. O Cigano puxou a pequena lâmina da bainha.

— Uma lâmina esplêndida para uma senhora como você. — ele se esforçou.

— Ora, não é para mim, mas para meu irmão. — Davina rebateu.

— Sim, uma bela arma para guardar na bota! Vê os desenhos incrustados de prata na lâmina?

— É mesmo prata? — Davina ergueu a adaga e estudou os desenhos celtas que desciam pela lâmina estreita.

— Pois claro! Uma obra de arte! — quando ele disse o preço, ela estremeceu. — Prata de verdade, eu prometo.

Ela devolveu a lâmina, mas o ourives não a aceitou. Ele olhou ao redor e então sussurrou, em um tom conspiratório, um preço mais baixo. Não muito mais baixo, mas o suficiente. Davina entregou a moeda.

Rosselyn puxou a manga de Davina.

— Olha… — ela disse apontando para uma mulher idosa. A cigana exibia uma longa trança prateada e um lenço escarlate cobria a cabeça.

A mulher acenou para elas.

Ela se sentava ao lado de uma barraca de lona pintada com uma cena impressionante de uma mulher de cabelos louros sentada atrás de uma mesa exibindo uma série de objetos. Estrelas, luas e outros símbolos estranhos que Davina não reconheceu flutuavam em torno dos cabelos loiros em cascata da mulher.

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