Conquista Da Meia-Noite - Burnz Arial 5 стр.


— Megera! É tudo culpa dela! — o tilintar de fivelas e arreios soou em meio à comoção. — Fique quieto, seu animal estúpido!

Davina se agachou ainda mais no chão e espiou pelas fendas nas venezianas da abertura acima dela. Ian se atrapalhava para selar seu cavalo. Ela estremeceu a cada puxão e empurrão que o cavalo suportava do mestre, até que o cavalariço Fife pigarreou ao se aproximar da baia.

— Posso ajudar, Mestre Ian?

Ian recuou ao ouvir a voz de Fife e respirou fundo para se acalmar, afastando-se do cavalo.

— Sim, Fife, eu agradeceria.

O coração de Davina se contraiu ao ver o belo sorriso de Ian e o ar encantador. Ele agira assim com ela, durante o namoro, mas agora mostrava esse lado de sua personalidade a todos, menos a ela. As pessoas não suspeitavam do homem cruel por trás de um exterior atraente.

— Algo o incomoda, Mestre Ian? — Fife esfregou o nariz grande e redondo, semicerrando os olhos marcados pela idade enquanto dava tapinhas no pescoço do cavalo e contornava o outro lado para prender as tiras de couro.

— Oras, só um pequeno desentendimento com meu pai. Nada grave. — Ian sorriu e balançou a cabeça. — Será que em algum momento deixamos de ter desentendimentos com os nossos pais, eu me pergunto?

Fife riu e balançou a cabeça, baixando a guarda.

— É uma batalha sem fim que devemos suportar a vida toda, rapaz. Uma vida inteira. — ambos compartilharam uma risada ante tal sabedoria. Fife passou as rédeas para Ian. — Pegue leve com ela, Mestre Ian. Corra um pouco para aliviar a tensão dela, e volte na hora do jantar.

Ian balançou a cabeça com bom humor e subiu na sela de maneira elegante.

— Sinto que tenho mais de um pai por aqui com a maneira como você e Parlan me amam.

— Só estou cuidando de você, Mestre Ian. — Fife acenou enquanto observava Ian virar o cavalo e se dirigir ao portão da frente. — Bom rapaz. — ele sussurrou enquanto arrumava os estábulos.

Davina mordeu o lábio inferior em frustração. Ela era a única que via a crueldade de Ian? Cerrando os punhos, ela saiu de trás dos estábulos e voltou para o castelo, Fife lançou um olhar perplexo quando ela fechou a porta. Não, ela não era a única. O pai dela tinha olhos atentos, e ela estava certa de que ele conhecia a extensão da brutalidade de Ian.

Ela voltou direto para a sala de estar, mas a encontrou vazia, o fogo ainda queimando na lareira. Girando nos calcanhares, ela quase trombou com a mãe.

— Ora! Davina, você me deu um susto! — Lilias levou a mão ao peito e prendeu a respiração. — Seu pai me mandou buscar você.

— Estava procurando por ele agora mesmo.

Pegando a filha pela mão, Lilias conduziu Davina pelo andar térreo da casa até o primeiro andar, que comportava os cômodos privados. A cada pedra que passavam no caminho para o quarto dos pais lembrava Davina do orgulho que sentia pelos esforços do pai e da confiança em sua sabedoria para ouvir seus apelos.

Quando a mãe abriu a porta do quarto deles, Lilias conduziu Davina, fechou a pesada porta atrás delas e sentou-se no sofá perto da lareira, assumindo um lugar tranquilo, mas de apoio ao lado do marido. Parlan estava de pé junto à lareira, de costas para a porta, da mesma forma que na sala de estar.

— Não tenho certeza do quanto você ouviu fora da sala, Davina, mas lamento que a conversa tenha lhe causado tanto sofrimento. — ele se virou para encará-la, as sobrancelhas franzidas de tristeza. — Não tenha medo, fui o único que testemunhou sua retirada chorosa. As últimas palavras foram um sussurro reconfortante.

Davina puxou o lábio trêmulo entre os dentes para controlá-lo e manter-se firme diante do pai.

— O senhor não me causou nada, pai. Sinto-me grata por saber que está ciente da minha situação. — a voz dela tremeu, mas ela limpou a garganta e manteve as lágrimas sob controle. — Eu estava a caminho da sala de estar, para buscar meu bordado quando meu sogro implorava perdão a você por meu marido.

As sobrancelhas de Parlan se ergueram, parecia surpreso por ela ter ouvido tanto. Ele assentiu.

— Então você sabe da punição de Ian por sua incapacidade de gerenciar suas responsabilidades.

Ela assentiu.

Depois de uma longa pausa, ele disse:

— Sei que dada a condição desse arranjo parece que estou mandando você de volta para a cova dos leões. — Parlan estudou o couro marrom macio de suas botas antes de voltar seu olhar para ela. — Ian não está nada feliz com o esvaziamento de seus bolsos, algo em que eu confio que Munro irá cumprir. É por isso que insisto que fiquem aqui sob meu teto, para que eu possa lhe dar uma parcela de segurança e garantia de que você estará protegida.

Davina soltou a torrente de tristeza.

— Pai, por favor, não me deixe suportar mais um momento desta união! Não podemos fazer como disse e dissolver este casamento?

Parlan apertou a mandíbula e voltou os olhos tristes para a esposa. Lilias agarrou a mão dele, parecendo dar-lhe apoio.

— Davina, os Russell oferecem imensas oportunidades de negócios, tanto para mim quanto para seu irmão, e não posso contar com meu primo Rei para sempre. Devemos fazer esforços para aumentar nosso patrimônio por conta própria. — concentrando-se mais uma vez em Davina, ele deu um passo na direção dela e envolveu as mãos dela com as dele. — Lamento que tenha sofrido mais do que qualquer mulher com a mão pesada de seu marido. Agora que não posso mais negar o tratamento que ele dispensou a você, espero que me perdoe por não a ter defendido antes. Vou tomar medidas para garantir que esteja protegida e, com sua ajuda, creio podermos fazer isso funcionar.

Davina fez um grande esforço para falar, apesar do nó que se formava na garganta.

— Ser a mão gentil que domará a besta. — ela sussurrou, repetindo as palavras do sogro.

Parlan assentiu.

— Está óbvio que Munro fez um péssimo trabalho em ensinar a Ian como ser um homem. A sua estada, e a deles, aqui será indefinida. Ian e Munro ficarão nos quartos de hóspedes acima, e você terá, mais uma vez, seu quarto só para você neste andar. Fiz pressão em Munro quanto a isso, e nós dois estaremos atentos ao comportamento de Ian nas próximas longas semanas. Munro aceitou, com humildade, minha orientação como pai e de Lilias como mãe, para colocar Ian no caminho certo. Apenas quando virmos melhorias, você poderá se aventurar a estar de volta à casa deles. Somente quando eu estiver certo de que você será querida e cuidada como a mulher preciosa que é, você terá permissão para ir com eles.

Embora aliviada com o fim das surras e dos compromissos sexuais cruéis, o mundo de Davina ainda desmoronava acima dela.

— Pai, você não conhece o verdadeiro Ian. Ele é um mestre em vestir uma máscara de charme para esconder o monstro que é. Ele…

— Davina, de jeito nenhum vou deixar que ele a machuque. Concordo que ele leva as responsabilidades longe demais ao exercer seu domínio como marido, mas ele não é um perigo para sua vida. Caso eu considerasse que sim, acabaria com este casamento agora. Nós iremos protegê-la. — Davina odiou perceber que a família acreditava que ela era dramática. Ele a beijou na testa e puxou-a para um abraço apertado. — Não vou deixar que ele a machuque. Deve fazer isso por sua família. Um dia, quando Ian aprender bem o papel e deveres de um marido, você aprenderá a perdoá-lo e amá-lo. Se não, ao menos terá consolo nos filhos que terão um dia.

Ela deixou suas lágrimas rolarem, molhando a túnica do pai e segurando-o com força enquanto se submetia às ordens dele. Ela seria o cordeiro sacrificial para a estabilidade do futuro de sua família.

* * * * *

O aço colidindo com o aço ecoou no ar, ricocheteando nas paredes e no teto alto do Salão Principal, que se misturava aos grunhidos, ofegos e gemidos de Kehr e Ian enquanto duelavam. Kehr defendeu o impulso de Ian, se virou e golpeou o lado aberto de Ian, provocando um grunhido dele. Com um sorriso no rosto, Ian empurrou Kehr para frente, e Kehr retribuiu o sorriso com seu próprio impulso. No entanto, Ian obteve um bloqueio efetivo ao usar o escudo.

— Bom! — Kehr encorajou.

— Obrigado! — Ian disse com outro golpe da espada, que Kehr se esquivou.

Davina sorriu para o irmão, animada com a presença dele. Por fim ele voltava para casa depois de uma longa estada em Edimburgo visitando a corte. Havia chegado tarde na noite anterior, e embora ela antecipasse a chegada dele e a oportunidade de passar um tempo juntos, a notícia da aparição do rei James a fez desanimar.

Toda a Escócia estava alvoroçada com a experiência do rei, e Kehr contara a história com uma grande encenação na sala. Com o fogo alto na lareira que lançava sombras sinistras pelo cômodo, a família se sentou em um círculo, concentrada na encenação dramática de Kehr.

Curve-se perante o Rei da Escócia!, o conselheiro do rei berrou enquanto perseguia o homem que invadiu as câmaras de oração privadas do rei. — Kehr imitou o marechal, John Inglis, correndo atrás do intruso. — Entretanto, o rei levantou a mão e interrompeu seus conselheiros porque o homem parou antes de alcançar Sua Majestade.

Ondas de riso circularam pelo cômodo, e Davina colocou a mão na boca para abafar as próprias risadas.

— E vocês dizem que sou eu que tenho uma queda por drama! — ela provocou.

Kehr riu da interrupção, mas continuou.

Basta, disse o rei, deixe-o falar, e depois que eles se encararam por um longo período de silêncio, o homem avançou… — Kehr imitou as ações do intruso, inclinando-se com o punho diante dele. — … e puxou Sua Majestade pela túnica, dizendo: Senhor Rei, minha mãe me enviou a você, desejando que não vá aonde se propõe. — a testa de Kehr se franziu com a grave mensagem que o homem entregou ao rei. — Caso faça isso, não se sairá bem em sua jornada, nem ninguém que esteja com você.

Kehr caminhou em frente das pessoas sentadas ao redor da sala, olhando cada uma delas nos olhos. Davina balançou a cabeça ante a pausa que ele usou para causar efeito. Kehr centrou-se diante da audiência.

— E assim, do nada… — Kehr estalou os dedos. — O homem desapareceu como em um piscar de olhos! — a família arfou e murmurou entre si. Kehr encolheu os ombros. — E então o rei decidiu não declarar guerra à Inglaterra.

Davina se acalmou enquanto a respiração deixava o peito de uma só vez… enquanto todos os outros aplaudiam, torciam e celebravam a grande ocasião. Agarrando seu hidromel, Kehr acenou com a cabeça para Davina e ergueu a caneca. Ela retribuiu o aceno com um sorriso forçado. O irmão dela sentou-se em meio aos aplausos, e a família o parabenizou pelo desempenho e pela notícia maravilhosa.

Davina havia feito de tudo para parecer feliz, assim como agora, lutou para manter o sorriso como uma máscara, agarrada ao conhecimento de que, afinal, Kehr e seu pai não iriam para a guerra. Felizmente, falar de guerra sempre a mantinha longe da corte, lugar em que ela detestava estar. Além disso, ela queria Ian no campo de batalha… não seu irmão e pai.

— Aguente firme, Ian. — Kehr avisou e desencadeou um ataque de balanços, confrontos e avanços que fizeram Ian recuar por toda a extensão do cômodo. Sem prestar atenção aos próprios passos, Ian tropeçou e caiu para trás, mas logo recuperou o equilíbrio e se virou para evitar o ataque de Kehr.

— Fascinada pela empolgação, minha sobrinha?

O irmão de sua mãe, Tammus, parou ao lado de Davina.

Davina percebeu estar agarrada ao encosto de uma cadeira enquanto observava o irmão e o marido se engajando na batalha simulada, parte do treinamento de Ian. Ela só percebeu a dor em seus dedos ao soltar a madeira dura. Olhou para o tio, cujo rosto brilhava com um tom quente e laranja à luz das tochas colocadas no corredor.

— Sim, tio. Eu me preocupo com os dois. — ela mentiu.

Tammus colocou um braço quente sobre os ombros dela e a abraçou de lado.

— Ora, não se preocupe, moça. Uma simulação de batalha com certeza difere do combate real, que no final, felizmente, não precisamos vivenciar.

— Sim, tio. — ela sorriu e voltou a prestar atenção ao par que duelava.

Quando Kehr piscou para ela, de costas para Ian, o marido deu um tapa no traseiro de Kehr com a parte plana de sua espada, fazendo seu irmão gritar. Ian ergueu as sobrancelhas fingindo surpresa, e Kehr começou a perseguir Ian, que fugiu gritando como uma garotinha, circundando a vasta extensão do cômodo. Todos explodiram em gargalhadas com a cena cômica, exceto Davina.

A exibição de Ian a deixava nauseada. Ao longo das últimas seis semanas, desde a punição recebida que lhe custou o dinheiro que recebia, Ian demonstrava um desempenho estelar em conquistar a família dela em todas as oportunidades. Embora não permitissem que os dois ficassem sozinhos, para grande alívio dela, nos raros momentos em que ele podia lançar um olhar para ela, ou encurralá-la no castelo, ele a deixou ciente de que, em particular, tudo o que ele estava passando voltaria para assombrá-la assim que ele alcançasse o objetivo de retomar o controle e o dinheiro.

— É um jogo delicioso de gato e rato, não é? — ele perguntou uma vez em uma dessas emboscadas.

— Não será capaz de enganar minha família. — disse Davina, segura de si.

Ele se aproximou dela, fazendo-a encostar-se no canto da escada e apoiando os braços nas paredes.

— Eles pensam que me controlam… — ele sibilou. — que sou uma marionete presa aos dedos deles, distribuindo porções escassas de moedas? Vejamos se gostarão de ser controlados. Há demasiada confiança neles, assim como em você.

Ele a amaldiçoou com um sorriso maligno e se afastou. Ela começou a carregar uma adaga na bota depois daquele encontro. Observando a família agora, comendo nas mãos de Ian, a declaração dele parecia bastante verdadeira. Ian gostava dessa mascarada, gostava de manipular as pessoas para que pensassem e agissem da maneira que ele queria, um jogo que ele adorava aperfeiçoar. Até onde ele iria?

Kehr conseguiu fazer Ian tropeçar, e ele se esparramou no chão de pedra. Todos correram em seu socorro, Kehr à frente da multidão, se desculpando. Ian ficou atordoado por um momento, e Davina se permitiu um sorriso secreto. Recuperando a compostura, Ian limpou o sangue do lábio inferior e olhou para ela. Erguendo uma sobrancelha, ele deu um breve sorriso, apenas o tempo suficiente para que ela percebesse, antes de seu rosto ficar sombrio. Ian baixou o olhar como se estivesse com o coração partido. Olhando para Davina, ele se levantou do chão e espanou as calças. O leve gesto fez com que seu irmão e seu pai se voltassem para Davina. Antes que ela soubesse o estratagema de Ian, Davina foi pega se regozijando pelo acidente de seu marido, exatamente como Ian queria.

Calor subiu em suas bochechas. Parlan olhou para ela, fazendo com que o resto do grupo também se virasse na mesma direção. Pedindo licença para sair da cena, Davina saiu do Salão Principal e foi para o corredor que passava pela sala, pela cozinha e seguia na direção dos estábulos, sempre sufocando os soluços. O crepúsculo se instalava ao redor do castelo, lançando tons de cinza em tudo. Halos de luz âmbar circundavam as tochas colocadas no terreno, iluminando ao menos o bastante para guiar o caminho. Ela adentrou os estábulos aos pisões e chutou um balde vazio no chão. A comoção acordou os gatinhos, e eles se mexeram.

— Como eles podem acreditar na farsa dele? — ela sibilou e cruzou os braços sob os seios, cerrando os punhos e andando de um lado para o outro.

Após o primeiro incidente, Davina procurou seu pai para explicar o plano de Ian, e ele acreditou nela. Mas quando Ian foi levado perante Munro, Parlan e Davina para dar explicações, Ian alegou que Davina o entendera mal e se desculpou por escolher mal as palavras, por não explicar corretamente. No início, até ela acreditava que não ouvira bem, até que ele a encurralou outra vez. Não havia engano em nada. Depois de um tempo, seu pai passou a acreditar que Davina estava tentando desacreditar Ian enquanto ele tentava, com afinco, mudar. No entanto, essas falhas não a desencorajaram de continuar tentando.

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