Magia, Caos & Assassinato - January Bain 3 стр.


— Nos casamos num frenesi, mais quente que um broto de pimenta. Estivemos falando sobre Jackson, desde que o fogo se foi. Estou indo para Jackson, vou aprontar. Sim, eu estou indo para Jackson. Cuidado, cidade de Jackson.

Cantar era uma maneira de alertar os ursos-negros de que eu estava em seu território, embora isso não queira dizer que eu não carregue meu próprio spray de pimenta caseiro feito de essência extra picante de pimenta, preparado no fogão da cozinha no último inverno.

Parei ao lado da trilha perto da minha área de coleta favorita, desliguei a ignição e pulei do jipe.

Ah, natureza. Uma águia careca voando no alto combinava perfeitamente com meu humor. Ele voou majestosamente contra os azuis suaves do céu do meio do verão, sua coroa branca uma prova de seu reinado contínuo. Colocando as pernas da minha calça dentro das minhas botas — eu realmente odiava carrapatos — eu me pulverizei com repelente de insetos e caminhei até o primeiro arbusto de saskatoon. A grama seca sussurrava com meus movimentos, e eu espirrei alto por causa do ataque aos meus nervos olfatórios. Três espirros altos. Meu nariz ia ficar vermelho como uma beterraba. Parando um segundo para assoar o nariz com um lenço, apertei mais meu rabo de cavalo alto e observei a colheita deste ano que eu estava de olho há semanas. Ahá, cheguei antes dos ursos este ano.

Me certificando de que o spray de pimenta estava preso no meu cinto, comecei o trabalho pegajoso de remover a recompensa abundante. Continuei cantando para alertar a vida selvagem — era melhor do que uma buzina a ar — trocando de Jackson para Sunday Morning Coming Down de Kris Kristofferson. Embora Estrela fosse deitar e rolar com algumas das referências de drogas na letra, eu adorava a melodia solitária do poeta bardo.

— Porque há algo no domingo, que faz com que um corpo se sinta só. E não há nada mais solitário, isso é metade da solidão do som. Das calçadas adormecidas da cidade, e o domingo está chegando ao fim.

Menos de duas horas para encher quatro baldes. Inacreditável. Eu teria galões de frutas azedas e roxo escuro no final do dia. A colheita deste ano se transformou em nossa marca mais vendida de geleia e traria uma doce quantia de dinheiro. Eu arrastava cada balde de volta ao jipe quando os enchia, não querendo derrubá-los acidentalmente e derramar seu precioso conteúdo na sujeira.

Então houve um barulho alto de galhos quebrando. Droga, companhia indesejada. Meus dedos agarraram a garrafa de spray na minha cintura. Esperei por outro som para me alertar da direção do intruso. Com o sol nos meus olhos, eu os apertei para verificar a paisagem, girando minha cabeça para frente e para trás.

Lá.

Eu vi o movimento de uma criatura ereta extremamente grande vindo na minha direção, passando através do matagal grosso e da cobertura elevada, como se tivesse apenas uma intenção — me fazer mal. Eu não me importei se era um enorme urso-negro ou o lendário Pé Grande. De qualquer forma, eu atacaria primeiro, com a faca afiada escondida na minha bota se chegasse a isso. Pulverizei a substância nociva do quadril, direcionando o grande fluxo do meu cinto.

Houve um grunhido alto de surpresa. — Aii, por que você fez isso? — Mais gemidos de agonia humana se seguiram.

Oops.

Para fora dos arbustos tropeçou um homem muito grande — não o Pé Grande, mas bem perto disso. Vestido em um blusão preto, jeans negros e botas de combate extra-grandes, ele usava um Stetson preto muito agradável, acompanhado por uma grande careta. E oh minha nossa, quando ele me prendeu com um olhar de seus assombrosos olhos castanhos sob aquele chapéu espetacular de garoto malvado, minhas entranhas deram um pulo. Uau.

— Oh minha deusa! Eu sinto muito! Pensei que você era um urso-negro. Se eu soubesse que você era — bem você, eu nunca teria pulverizado.

O alto pedaço de homem estava ocupado demais lavando o rosto com uma garrafa de água para me dar uma resposta. Esperei, mastigando meu lábio inferior e desejando poder afundar no chão. Mas quem andava fazendo barulho pelos arbustos de maneira tão óbvia? Um urso, é claro. Um predador terrestre sem medo de ser humanos e querendo dar uma mordida em mim.

— Senhora, eu estava vindo para alertá-la. Um urso foi avistado perto daqui. Eu a ouvi gritando e pensei que você poderia estar em apuros. Não esperava ser pulverizado com spray de pimenta por causa disso.

Olhei em volta com cautela. Talvez fosse hora de voltar para a cidade e trazer um grupo de pessoas para coletar bagas outro dia quando eu poderia colocar alguém para manter vigia. Eu tinha enchido quatro baldes. Não é muito ruim.

Espere.

O que ele acabou de dizer?

— Eu não gritei. Eu estava cantando. E com certeza isso é melhor do que se jogar no arbusto como o Pé Grande.

— Se você diz, querida. — Aquilo foi um brilho nos olhos dele? O resto de seu lindo rosto permaneceu inescrutável, me fazendo sentir borboletas na barriga novamente. Ele chegou mais perto e o fedor acre do spray de proteção em suas roupas fez meus olhos arderem com simpatia. Nossa.

Ele viu minha careta. — Não é um odor tão agradável de estar perto, concordo. Sou o oficial Ace Collins, à propósito.

— Da PRMC2? — Minha voz saiu em um guincho alto. Droga. De todas as pessoas que eu poderia ter borrifado, como consegui um homem da lei? Ele deve ser novo na cidade ou eu já teria ouvido falar dele. As notícias viajam mais rápido do que a velocidade da luz por aqui. Não é ruim, considerando que a luz viaja 299,792,458 metros por segundo e leva oito minutos e dezessete segundos para nos alcançar do sol. Eu amo fatos curiosos.

— Peço desculpas. — Eu dei a ele a minha melhor cara de desculpas. — Mas com você trovejando pelo arbusto, eu realmente pensei que você fosse um urso. Diabos, você é grande o suficiente para ser um.

— E você é? — Nem uma sugestão de um sorriso naquele rosto sério. Aposto que ele tinha todos os criminosos prontos para se renderem. Um olhar para os ombros musculosos extra-largos e para a mandíbula de granito e eles desistiriam.

— Encanto McCall. Minhas irmãs e eu administramos o café Chá e Tarô na Rua Principal.

— Bem, Encanto McCall, acho que é melhor sairmos daqui. Lá vem o urso. — Ele apontou para uma forma grande que avançava, apenas visível nos cantos dos meus olhos.

— Oh, droga! — Ativei o modo de sobrevivência. Corra. Nunca se finja de morto para um urso-negro — eles vão achar que você decidiu se tornar um lanche de alta proteína. Dei um salto para dentro do jipe em tempo recorde. Uma explosão de atividade do meu lado direito provou que o homem da lei teve um pensamento rápido parecido. Liguei o motor, engatando a marcha do veículo.

— Se segure!

Nós viajamos em alta velocidade durante alguns minutos insanos antes de chegarmos na estrada principal de volta para a cidade. Aliviei meu pé no acelerador e olhei para o meu passageiro. Ele parecia um pouco pálido.

— Você está bem?

— Sim, claro. — Ele soltou os dedos do painel e endireitou o chapéu que havia caído para frente. — Você sempre dirige assim?

— Não. Somente quando um urso quer um pedaço da minha bunda. — Olhei para ele e o peguei me checando. Ele parecia ter vinte e poucos anos. Sim. Perfeito.

— Você deveria vir para o café. Tome um pouco de café e uma sobremesa por conta da casa. Eu te devo — pela resposta rude à sua tentativa de me ajudar.

— Desculpe, hoje não. Talvez outra hora.

Decepcionada, fiz a curva para a Rua Principal. Com o cheiro do spray de pimenta se dissipando, eu podia detectar uma fragrância diferente por baixo. Um cheiro amadeirado fresco. Bom. Cheirar bem sempre é algo bom.

— Onde posso deixar você?

— No destacamento. Vou voltar para buscar minha caminhonete mais tarde. De qualquer maneira eu preciso entrar.

— Certo. — Fiz a curva no Tesourada com sua tesoura enorme empoleirada no telhado. Tinha até uma história, de quando o estranho artefato tinha caído na calçada durante uma tempestade de gelo anos atrás. Ela havia sido fixada de forma mais segura desde aquilo, graças à deusa. O salão de beleza ficava ao lado do nosso café e era bem movimentado. Parei na primeira entrada de garagem à direita. — Você gosta de música country? — Perguntei quando ele saiu do banco da frente.

— Sim, claro. — Ele me deu um olhar questionador, fechando a porta barulhenta do passageiro. Duas vezes. Ela nunca fechava na primeira tentativa.

— Ótimo. Venha ao Botas e Renda hoje à noite. É a noite dos homens. A primeira bebida é grátis. E minha irmã Estrela vai cantar, o que é algo incrível.

— Você tem mais família na cidade? — Ele descansou a mão na parte de cima da janela aberta do jipe. Ele se curvou para ficar da minha altura, seu belo rosto preenchendo o espaço de uma forma alarmante.

— Sou uma de três trigêmeas. A mais velha por um dia, então estou no comando.

— Eu aposto que você está — ele murmurou.

— Desculpe, eu não ouvi.

— Eu disse que adoraria ir.

— Excelente! Eu te apresentarei à cidade. Este é seu primeiro trabalho?

— Não. Passei três anos em Vancouver após completar meu mestrado em criminologia.

— Sério? Eles mandaram um homem com suas credenciais para cá? Sem ofensa, oficial, mas o Lago Nevado não é um centro de crime. O que você fez?

— Aparentemente, minha atitude notável em ajudar os outros que não viam o quadro completo durante a aplicação da lei não era o bônus que eu esperava que fosse.

— Não é a primeira vez que alguém foi rebaixado por saber demais. Detecto um pouco de sotaque do sul na sua voz?

— Culpado da acusação. Passei minha infância em Lexington, Kentucky, antes que meus pais, eu e meus dois irmãos nos mudássemos para o Canadá. Meu pai é um professor universitário e minha mãe é uma cientista especializada em virologia.

— Impressionante. Bem, amanhã é o Festival da Vizinhança, o que significa que você pode se vingar de mim pelo spray de pimenta. Vou ficar no tombo molhado.

— Sério? — Um sorriso genuíno apareceu. — Que horas?

— Ah, das uma às duas.

Ele parecia inteiramente presunçoso agora.

— Sabe, eu poderia ter levado você de volta ao seu veículo. — Estreitei os olhos, pensando em uma viagem de volta para depositar a doce bunda dele nas proximidades do grande urso-negro.

— Não, obrigado. Eu valorizo meu pescoço.

E com aquela última frase, ele saiu confiante, todo alto e forte para a entrada da frente do destacamento, exatamente como Marshall Raylan Givens do programa de sucesso, Justified que vovó e tia T.J. insistiram em comprar todas as temporadas em DVD. Exibido.

Fiz uma volta abrupta, aproveitando a nuvem de poeira que meus pneus grandes demais jogaram no edifício baixo que abrigava toda a força policial de um dígito da cidade, depois acelerei pela curta distância para casa.

Pegando um balde de bagas em cada mão, bati na porta da frente com a minha bota. Tulipa a abriu. — Há mais dois no jipe — grunhi passando por ela para depositar as frutas em uma mesa para clientes.

Estrela apareceu já vestida para o show da noite no Botas e Renda.

— Você está bonita — eu disse, admirando o vestido de cowgirl branco com franja e as botas de couro vermelhas.

— Você acha! — Ela girou, fazendo a franja dançar.

— Terminou a fornada?

— Ah, sobre isso…

Eu gemi alto. — Não me diga.

Tulipa voltou com os outros baldes de bagas, passando seu olhar entre nós e entendeu o que estava acontecendo.

— Eu vou ficar e terminar os biscoitos.

— Você queimou uma fornada de novo? — Fixei meu olhar em Estrela. — Se você tiver queimado, você vai ficar e terminar. Não Tulipa.

— Eu não tenho tempo. Tenho que ir até o hotel. Jerry ligou e disse que precisa de ajuda com a passagem de som.

— E sua família não precisa?

— Não foi minha culpa. Fiquei ocupada com um cliente e…

— Eu te disse para manter o café fechado. — Estrela nunca escutava.

— Você disse que precisávamos do dinheiro! E a pessoa comprou mais de cem dólares em cristais e cartas de tarô. Até um livro de feitiço dos mais caros. — A expressão de Estrela ficou assassina, como a música dela sobre Johnny do Lago Nevado.

— Estrela. — Balancei a cabeça. — Ok, saia daqui. Tulipa e eu vamos lidar com isso.

Ela me deu uma apunhalada final com os olhos irritados, saindo zangada pela porta da frente.

— O coração dela estava no lugar certo — Tulipa murmurou, apenas fazendo minha culpa ficar mais profunda.

— Sim, eu sei. Vamos lá, nós temos biscoitos para assar e bagas para limpar. E eu quero ver pelo menos um dos números de Estrela hoje à noite. Eu convidei alguém.

— Mesmo. Quem?

— O novo policial da cidade. Ace Collins. Acabou de chegar.

— Legal. Deve ter sido no fim desta tarde então. — Tulipa olhou para o relógio na parede, um dos meus favoritos, com sua imagem alegre de um galo cantando sobre o tempo. — A última atualização que recebi da tia T.J. foi às quatro e meia. Uma hora atrás.

— Provavelmente tirou uma soneca. Eu esperaria uma ligação a qualquer momento.

Assim que eu falei, o telefone tocou.

Tia T.J., apelido para Tegan Jane, vivia na Rua do Telégrafo, ao lado da biblioteca da cidade. Eu amo a casa dela, feita no estilo gingerbread3 com toques extravagantes como almofadas bordadas com provérbios antigos que aquecem o coração. Ela era a irmã mais nova da vovó por uma década, e pela reação de Tulipa, não precisava de um paranormal para saber que ela estava ligando.

— Tia T.J.. Claro, Encanto acabou de me dizer.

— Diga a ela que ela está falhando — eu provoquei. Arrastei as bagas para a cozinha. Se eu trabalhar como uma louca, posso terminar a tempo para um banho rápido e a segunda música da Estrela.

Três horas suadas depois, as bagas estavam no refrigerador e uma fornada enorme de biscoitos de manteiga de amendoim estava empilhada em bandejas de plástico transparentes.

— Você quer fazer o Feitiço Kismet? — Perguntei a Tulipa.

— Não, não tenho muita energia sobrando. Você faz.

— Agradecemos por esta recompensa da terra sagrada. Que este alimento seja seguro e nutritivo para todos os que o consumam e os abençoem à saúde ideal, dando energia, vigor e bem-estar. — Enviei minhas intenções positivas para o universo, visualizando o fluxo como um círculo de amor, apreciando o puxão no meu espírito.

— Droga, nós não abençoamos o pote de geleia que a Sra. Hurst levou. — Eu franzi a testa para Tulipa, não gostando da omissão.

— Vai ficar tudo bem, Encanto. Estou indo para casa me trocar. Vejo você lá. — Tulipa tirou o avental e saiu do café. Eu me arrastei passo a passo até as escadas de trás para a minha suíte e olhei para a porta fechada de Ivana. Um passo rangeu sob o meu pé e me encolhi, parando no meio do movimento. Eu rezei.

Mas não tive tanta sorte. Uma porta se abriu e nossa inquilina ficou ali, com as mãos em seus quadris curvilíneos. Seu cabelo vermelho selvagem dava uma impressão de movimento sinistro semelhante à famosa Medusa, mesmo quando ela estava parada. Seus olhos cinzentos me prenderam na parede e eu jurava que uma faísca saltou dela para pousar na minha camisa. Eu distraidamente passei a mão nela. Ela estava na casa dos trinta anos e era alguém que eu nunca queria aborrecer. Eu acho que ela tem relação com a máfia russa — pelo menos ela sugeria isso com frequência suficiente quando ela já tinha tomado algumas doses de vodca. É claro, todos a amavam. Esperto.

— Ivana, como está? — Perguntei, minha garganta apertando. Não havia muitas coisas que eu tinha medo, mas Ivana Petrov? No topo da lista com o Pé Grande. O inglês quebrado e seco dela apenas a tornava mais assustadora.

— Não muito bem.

— Oh? — A pele na parte de trás do meu pescoço formigou. — O que aconteceu?

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