Enterrados - Блейк Пирс 3 стр.


Enquanto Blaine e Gabriela continuaram a discutir sobre a receita, parte em Inglês e parte em Espanhol, Riley deu por si a pensar se ela e Blaine poderiam…

Corou ao ocorrer-lhe a ideia.

Não, não vai acontecer esta noite.

Não poderia haver escapatória graciosa ou discreta com toda a gente ali.

Não que as coisas não estivessem bem como estavam.

Estar rodeada de gente que amava era um enorme prazer. Mas ao observar a sua família e amigos a divertirem-se, uma nova preocupação começou a surgir na mente de Riley.

Havia uma pessoa que mal tinha dito uma palavra à mesa. Era Liam, o mais recente hóspede na casa de Riley. Liam tinha a idade de April e os dois adolescentes tinham namorado a dada altura. Riley tinha salvo o miúdo de um pai agressivo e bêbedo. Ele precisava de um lugar para viver e naquele momento dormia num sofá-cama em casa de Riley.

Geralmente, Liam era falador e sociável. Mas algo parecia estar a incomodá-lo naquela noite.

Riley perguntou, “Passa-se alguma coisa, Liam?”

O rapaz parecia nem sequer a ouvir.

Riley falou um pouco mais alto.

“Liam.”

Liam levantou os olhos da refeição em que mal tinha tocado até ao momento.

“Huh?” Disse ele.

“Passa-se alguma coisa?”

“Não. Porquê?”

Riley não tinha dúvida de que algo estava errado. Liam nunca era parco em palavras como estava a ser.

“Ocorreu-me que se poderia passar algo,” Disse ela.

Tentou não se esquecer que teria que falar com Liam mais tarde.

*

Gabriela terminou a refeição com um delicioso pudim flan. Riley e Blaine tomaram bebidas enquanto os quatro miúdos se entretinham na sala. Por fim, Blaine e a filha foram embora.

Riley esperou até April e Jilly irem dormir. Depois foi sozinha até à sala familiar onde Liam estava sentado no sofá ainda fechado a olhar para o vazio.

“Liam, eu sei que se passa alguma coisa. Gostava que me dissesses o que é.”

“Não se passa nada,” Disse Liam.

Riley cruzou os braços e não disse nada. Ela sabia por experiência própria que às vezes o melhor era esperar.

Então Liam disse, “Não quero falar sobre o assunto.”

Riley ficou alarmada. Estava habituada a alterações de humor adolescente da April e da Jilly, pelo menos de vez em quando. Mas aquilo não era típico de Liam. Ele era sempre agradável e afetuoso. Também era um estudante dedicado e Riley apreciava a influência que ele exercia em April.

Riley continuou à espera em silêncio.

Por fim, Liam disse, “Recebi hoje uma chamada do meu pai.”

Riley sentiu um buraco no estômago.

Não conseguia evitar lembrar-se daquele dia terrível quando fora a casa de Liam para o salvar de ser espancado pelo pai.

Ela sabia que não devia estar surpreendida, mas não sabia o que dizer.

Liam disse, “Ele diz que está arrependido de tudo. Diz que tem saudades minhas.”

A preocupação de Riley aumentou. Ela não tinha qualquer custódia legal sobre Liam. Naquele momento, ela era uma espécie de mãe adotiva improvisada e não fazia ideia de qual seria o seu papel na sua vida futura.

“Ele quer que voltes para casa?” Perguntou Riley.

Liam anuiu.

Riley não conseguia colocar a pergunta mais óbvia…

“O que é que tu queres?”

O que é que ela faria – o que poderia ela fazer – se Liam dissesse que queria regressar a casa?

Riley sabia que Liam era um rapaz carinhoso e com capacidade de perdoar. Tal como muitas vítimas de abusos, também era propenso à negação.

Riley sentou-se a seu lado.

Perguntou, “Tens sido feliz aqui?”

Liam emitiu um som sufocado. Pela primeira vez, Riley apercebeu-se de que ele estava à beira de chorar.

“Oh, sim,” Disse ele. “Tem sido… Eu tenho estado… tão feliz.”

Riley sentiu um nó na garganta. Ela queria dizer-lhe que ele podia ficar o tempo que quisesse. Mas o que poderia ela fazer se o pai exigisse o seu regresso? Ela nada poderia fazer para o impedir.

Uma lágrima correu pelo rosto de Liam.

“É só que… desde que a mãe se foi embora… sou tudo o que o pai tem. Ou pelo menos era até me ir embora. Agora está completamente sozinho. Ele diz que parou de beber. Diz que não me vai magoar nunca mais.”

Riley quase disse…

“Não acredites nele. Nunca acredites nele quando disser isso.”

Mas em vez disso, Riley disse, “Liam, o teu pai está muito doente.”

“Eu sei,” Disse Liam.

“Depende dele obter a ajuda de que precisa. Mas até a obter… bem, será muito difícil ele mudar.”

Riley não disse mais nada durante alguns momentos.

Depois acrescentou, “Lembra-te sempre que a culpa não é tua. Sabes disso, não sabes?”

Liam engoliu um soluço e anuiu.

“Voltaste a vê-lo?” Perguntou Riley.

Liam abanou a cabeça em silêncio.

Riley deu-lhe uma palmadinha na mão.

“Só quero que me prometas uma coisa. Se fores vê-lo. Não vás sozinho. Quero estar lá contigo. Prometes?”

“Prometo,” Disse Liam.

Riley pegou numa caixa de lenços e deu um a Liam que limpou os olhos e assoou o nariz. Depois os dois ficaram sentados em silêncio durante algum tempo.

Por fim, Riley disse, “Precisas de mim para mais alguma coisa?”

“Não. Agora estou bem. Obrigado por… bem, você sabe.”

E sorriu-lhe muito ligeiramente.

“Por tudo,” Acrescentou ele.

“Não tens de quê,” Disse Riley, devolvendo-lhe o sorriso.

Ela saiu da sala familiar, caminhou até à sala de estar e sentou-se sozinha no sofá.

De repente, foi acometida por uma emoção tão grande que não conseguiu evitar chorar. Ficou alarmada por perceber como ficara abalada com a conversa que acabara de ter com Liam.

Mas quando pensou nisso, foi fácil perceber porquê.

Estou tão desnorteada, Pensou.

No final de contas, ainda estava a tratar da adoção de Jilly. Salvara a pobre rapariga de horrores inomináveis. Quando Riley a encontrou, Jilly estava a tentar vender o corpo por puro desespero.

Então em que é que Riley estava a pensar ao trazer outro adolescente para casa?

De repente desejou que Blaine ainda ali estivesse para conversarem.

O Blaine parecia sempre saber o que dizer.

Ela apreciara a calmaria entre casos durante algum tempo, mas aos poucos, as preocupações começavam a insinuar-se – preocupações relacionadas com a sua família e hoje com Bill.

Não pareciam umas férias.

Riley não conseguia evitar pensar…

Passa-se algo de errado comigo?

Seria ela simplesmente incapaz de gozar uma vida pacífica?

De qualquer das formas, podia ter a certeza de uma coisa.

Aquela trégua não duraria. Algures, algum monstro estava a cometer algum feito hediondo – e teria que ser ela a pará-lo.

CAPÍTULO QUATRO

Riley foi acordada na manhã seguinte pelo som do seu telemóvel a vibrar.

A trégua terminou, Pensou.

Olhou para o telemóvel e viu que tinha razão. Era um SMS do seu chefe de equipa na UAC, Brent Meredith. Deveria encontrar-se com ele e a mensagem estava escrita no seu típico estilo conciso…

UAC 8:00

Riley olhou para as horas e apercebeu-se que tinha que se despachar para chegar a tempo à reunião tão apressadamente marcada. Quantico ficava apenas a meia-hora de carro de casa, mas ela precisava de se apressar.

Riley demorou apenas alguns minutos a escovar os dentes, pentear o cabelo, vestir-se e descer as escadas.

Gabriela já fazia o pequeno-almoço na cozinha.

“O café está pronto?” Perguntou-lhe Riley.

“Sí,” Disse Gabriela e serviu-a.

Riley bebeu um gole de café sofregamente.

“Vai-se embora sem tomar o pequeno-almoço? Perguntou-lhe Gabriela.

“Temo que sim.”

Gabriela deu-lhe uma bagel.

“Então leve isto consigo. Tem que ter alguma coisa no estômago.”

Riley agradeceu a Gabriela, bebeu um pouco mais de café e correu para o carro.

Durante a curta viagem até Quantico, foi arrebatada por uma sensação peculiar.

Começou realmente a sentir-se melhor do que nos últimos dias, até ligeiramente eufórica.

Era em parte um aumento de adrenalina, é claro, já que a sua mente e corpo se preparavam para mergulhar num novo caso.

Mas era também algo perturbador – uma sensação de que as coisas estavam de alguma forma a voltar ao normal.

Riley suspirou perante essa tomada de consciência.

Interrogou-se – perseguir monstros era algo mais normal do que passar tempo com aqueles que amava?

Não pode ser… bem, normal, Pensou.

Pior, lembrava-lhe de algo que o pai, um Marine aposentado amargo e brutal, lhe tinha dito antes de morrer.

“És uma caçadora. Aquilo que é normal para as pessoas – para ti seria o fim.”

Riley queria muito que tal não fosse verdade.

Mas em momentos como aquele, não podia deixar de se preocupar – seriam os papéis de esposa, mãe e amiga impossíveis de alcançar?

Seria inútil sequer tentar?

Seria “a caça” a única coisa que ela realmente tinha na vida?

Não, não era a única coisa.

Claramente nem sequer era a coisa mais importante na sua vida.

Firmemente, colocou aquela pergunta desagradável de lado.

Quando chegou ao edifício da UAC, estacionou e apressou-se diretamente para o gabinete de Brent Meredith.

Viu que Jenn já lá se encontrava, parecendo mais desperta do que Riley. Ela sabia que Jenn, tal como Bill, tinha um apartamento da cidade de Quantico, por isso levara menos tempo a ali chegar. Mas Riley também atribuía alguma daquela frescura matinal de Jenn à sua juventude.

Riley já fora como Jenn quando era mais nova – pronta e ansiosa para entrar em ação a qualquer momento do dia ou da noite, e capaz de se privar de descanso por longos períodos quando o trabalho assim o exigia.

Estariam esses dias a desaparecer?

Não era um pensamento agradável e não ajudava a melhorar a disposição já sorumbática de Riley.

Sentado na sua secretária, Brent Meredith estava formidável como sempre, com os seus traços negros angulares e a sua permanente atitude de frontalidade.

Riley sentou-se e Meredith não perdeu tempo a ir direto ao assunto.

“Ocorreu um homicídio esta manhã. Sucedeu numa praia pública na Belle Terre Nature Preserve. Conhecem este lugar?”

Jenn disse, “Estive lá algumas vezes. É um local fantástico para caminhar.”

“Eu também já lá estive,” Disse Riley.

Riley lembrava-se da reserva natural muito bem. Ficava na Baía de Chesapeake, a apenas duas horas de distância de Quantico. Tinha uma zona densamente arborizada e uma ampla praia pública na baía. Era uma área popular para pessoas que gostavam de atividades ao ar livre.

Meredith tamborilou os dedos na secretária.

“A vítima era Todd Brier, um pastor Luterano em Sattler. Foi enterrado vivo na praia.”

Riley estremeceu.

Enterrado vivo!

Já tivera pesadelos com aquilo, mas nunca trabalhara num caso que envolvesse este tipo particular de crime.

Meredith continuou, “Brier foi encontrado às sete desta manhã e parece que estava morto há apenas uma hora.”

Jenn perguntou, “O que faz disto um caso para nós?”

Meredith disse, “Brier não é a primeira vítima. Ontem foi encontrado outro corpo não muito longe – uma jovem chamada Courtney Wallace.”

Riley conteve um suspiro.

“Não me diga nada,” Disse ela. “Também foi enterrada viva.”

“Sim,” Disse Meredith. “Foi morta num dos trilhos de caminhada na mesma reserva natural, aparentemente também de manhã. Foi descoberta mais tarde nesse mesmo dia quando uma pessoa que caminhava encontrou a terra remexida e ligou para os serviços do parque.”

Meredith reclinou-se na sua cadeira e girou-a para trás e para a frente.

Disse, “Até agora, a polícia local não tem quaisquer suspeitos ou testemunhas. Para além dos locais e do MO, não têm muito mais. Ambas as vítimas eram jovens e saudáveis. Ainda não houve tempo para estabelecer qualquer relação entre eles, a não ser que ambos ali estavam de manhã cedo.”

Riley tentou compreender o que acabara de ouvir. Até ao momento, era muito pouco o que tinha para chegar a conclusões.

Perguntou, “A polícia local delimitou a área?”

Meredith anuiu.

“Delimitaram a área arborizada junto ao trilho e metade da praia. Disse-lhes para não mexerem no corpo até ao meu pessoal lá chegar.”

“E o corpo da mulher?” Perguntou Jenn.

“Está na morgue em Sattler, a cidade mais próxima. O Médico-legista do Tidewater District está na praia neste momento. Quero que vocês as duas vão para lá o mais rapidamente possível. Levem um carro do FBI, qualquer coisa que vos dê visibilidade. Tenho a esperança de que se o FBI estiver visível na cena, pode dissuadir o assassino. Acredito que ainda não tenha terminado a sua missão.”

Meredith olhou para Riley e Jenn.

“Alguma pergunta?” Questionou.

Riley tinha uma pergunta, mas não sabia se a devia colocar.

Por fim disse, “Senhor, gostava de fazer um pedido.”

“Então?” Disse Meredith, recostando-se novamente na sua cadeira.

“Queria que o Agente Especial Jeffreys fosse designado para este caso.”

Os olhos de Meredith estreitaram-se.

“O Jeffreys está de licença,” Disse ele. “Tenho a certeza de que você e a Agente Roston conseguem lidar com este caso.”

“Eu sei que conseguimos,” Disse Riley. “Mas… “

Ela hesitou.

“Mas o quê?” Perguntou Meredith.

Riley engoliu em seco. Ela sabia que Meredith não gostava quando lhe pediam favores pessoais.

Ela disse, “Penso que ele precisa de voltar ao trabalho. Penso que lhe faria bem.”

Meredith olhou com desconfiança e não disse nada durante alguns instantes.

Depois disse, “Não o vou convocar oficialmente para o caso. Mas se quer que ele trabalhe consigo numa base informal, não tenho qualquer objeção.”

Riley agradeceu-lhe, tentando não ser demasiado efusiva com receio que mudasse de ideias. Então ela e Jenn requisitaram um SUV oficial do FBI.

Quando Jenn começou a conduzir para sul, Riley pegou no telemóvel e enviou uma mensagem a Bill.

Estou a trabalhar num novo caso com a Roston. O chefe diz que te podes juntar a nós. Eu quero que estejas connosco.


Riley esperou alguns instantes. O seu coração bateu descompassadamente quando viu que a mensagem tinha sido lida.

Então escreveu…

Podemos contar contigo?


Mais uma vez, a mensagem havia sido lida, mas não surgiu uma resposta.

Riley ficou desanimada.

Talvez não seja uma boa ideia, Pensou. Talvez ainda seja demasiado cedo.

Gostava que Bill respondesse, mesmo que para lhe dar uma resposta negativa.

CAPÍTULO CINCO

Jenn conduzia o SUV para sul rumo ao seu destino e Riley continuava a olhar para as mensagens que enviara.

Os minutos passavam e Bill teimava em não responder.

Por fim, Riley decidiu ligar-lhe.

Para sua frustração, a chamada foi para o voice mail.

Ao som do beep, Riley limitou-se a dizer, “Bill, liga-me. Agora.”

Quando Riley pousou o telemóvel no colo, Jenn olhou para ela.

“Passa-se alguma coisa?” Perguntou Jenn.

“Não sei,” Disse Riley. “Espero que não.”

Durante a viagem, a sua preocupação foi crescendo. Ela lembrava-se de uma mensagem que recebera de Bill quando estava a trabalhar no último caso no Iowa…

Só para saberes. Estou aqui sentado com uma arma apontada à boca.


Riley estremeceu perante a memória do telefonema desesperado que se seguiu quando conseguiu convencê-lo a não se suicidar.

Estaria a acontecer novamente?

Se fosse esse o caso, o que poderia fazer Riley para ajudar?

Um súbito ruído estridente sobrepôs-se a estes pensamentos. Demorou alguns segundos a perceber que Jenn ligara a sirene devido a um troço de trânsito lento com que se haviam deparado.

Para Riley, a sirene era uma forma de se lembrar…

Tenho que limpar a minha cabeça.


*

Eram dez e meia quando Riley e Jenn chegaram à Belle Terre Nature Preserve. Seguiram uma estrada para a praia até encontrarem alguns carros de polícia estacionados e a carrinha do médico-legista. Atrás dos veículos encontrava-se a barreira policial delimitada por fitas para manter o público afastado da praia.

Quando Riley e Jenn saíram da carrinha, não vislumbraram a praia de imediato. Mas Riley viu gaivotas a sobrevoarem a zona, sentiu a brisa no rosto e o odor do sal no ar, e ouviu o som do surf.

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