Um Reinado de Rainhas - Морган Райс 6 стр.


"O que está acontecendo?" Indra pergunta. "Não podemos controlar o barco."

"Elas às vezes passam pelas Ilhas Superiores," explica Matus. "Nunca as vi com meus próprios olhos, mas já ouvi falar delas, especialmente aqui – tão ao norte. É como uma correnteza. Uma vez que você está preso nela, a maré pode levá-lo para onde ela quiser. Não importa o quanto você reme ou quantas velas você tenha."

Thor olha para baixo, e vê a água passando ao lado do barco com o dobro da velocidade de antes. Ele olha para longe e percebe que eles agora estão se dirigindo para um novo horizonte vazio, com nuvens roxas e brancas penduradas no céu – uma cena ao mesmo tempo bela e aterrorizante.

"Mas estamos indo para o leste agora," diz Reece, "e precisamos ir para o oeste. Todo o nosso povo está naquela direção. O Império fica no oeste."

Matus dá de ombros.

"Vamos para onde a corrente nos levar."

Thor olha para baixo com surpresa e admiração, percebendo que a cada minuto ele está ficando mais longe de Gwendolyn e de seu povo.

"E onde termina tudo isso?" O'Connor pergunta.

Matus dá de ombros.

"Eu conheço apenas as Ilhas Superiores," ele diz. "Nunca estive tão ao norte. Não conheço nada do que existe além disso."

"Mas há um fim," Reece diz com uma voz profunda, e todos os olhares se voltam para ele.

Reece os encara com gravidade.

"Eu aprendi sobre as marés há muitos anos, quando ainda era jovem. No livro antigo dos Reis, havia um conjunto de mapas que cobria cada ponto do mundo. As Marés do Norte levam ao limite oriental do mundo."

"Limite oriental?" Elden pergunta preocupado. "Mas estaríamos do outro lado de mundo em relação ao nosso povo."

Reece dá de ombros.

"Os livros eram antigos, e eu era muito jovem. Tudo o que sei é que as marés eram um portal para a Terra dos Espíritos."

Thor olha para Reece, pensando.

"Conversa de comadres e fantasias de crianças," O'Connor fala. "Não existe um portal para a Terra dos Espíritos. Ele foi fechado há muitos séculos, antes do nascimento dos nossos pais."

Reece dá de ombros e todos ficam em silêncio e começam a observar as águas do mar. Thor olha para as águas que se movem com rapidez e se pergunta: Para onde eles estariam sendo levados?

*

Thor se senta sozinho na beira do barco, encarando o vazio como já fazia há horas e sendo molhado pelas águas geladas do mar. Amortecido para tudo ao seu redor, ele mal sente qualquer coisa. Thor gostaria de estar fazendo algo, içando velas, remando – qualquer coisa – mas não há nada a fazer agora. As Marés do Norte os estão levando para onde elas querem, e tudo o que ele e seus companheiros podem fazer é observar as correntes marítimas, acompanhar o barco se movendo em cima das ondas e imaginar onde eles vão parar. Eles estão nas mãos do destino agora.

Enquanto fica sentado ali, estudando o horizonte e se perguntando se a viagem chegaria ao fim, Thor se vê entrando em transe por causa do frio e do vento, perdido na monotonia do profundo silêncio que havia recaído sobre eles. Os pássaros marinhos que a princípio haviam sobrevoado o barco já os tinham abandonado há muito tempo, e à medida que o silêncio se aprofunda e o céu se tornava mais escuro, Thor sente que eles estavam navegando para o nada, diretamente para o fim do mundo.

Horas mais tarde, quando os últimos raios de sol estão deixando de brilhar, Thor de repente se senta mais ereto, tendo visto algo no horizonte distante. A princípio ele tem certeza de que se trata de uma miragem; mas quando as correntes se tornam mais fortes, a forma fica mais distinta. O que ele vê é real.

Thor fica mais atento, e pela primeira vez em horas, ele se levanta. Ele fica em pé com as mãos nos quadris enquanto o barco balança – olhando para longe.

"Aquilo é de verdade?"

Thor olha para o lado e vê Reece dar um passo adiante e se aproximar dele. Elden, Indra e o restante dos outros logo se juntam a eles, observando espantados.

"Uma ilha?” O'Connor se pergunta em voz alta.

"Parece uma caverna," Matus responde.

Quando eles se aproximam, Thor começa a enxergar melhor o contorno e percebe que de fato se trata de uma caverna. É uma caverna enorme, uma abertura na rocha que se ergue de dentro do oceano – surgindo no meio daquele imenso e cruel oceano e erguendo-se por dezenas de metros de altura, com uma entrada em forma de arco. A entrada parece uma boca gigante, prestes a engolir tudo o que existe no mundo.

As correntes estão levando o pequeno barco exatamente naquela direção.

Thor assiste espantado e sabe que aquela só pode ser uma coisa: a entrada para a Terra dos Espíritos.

CAPÍTULO OITO

Darius caminha lentamente pela trilha de terra com Loti ao seu lado – o ar em torno deles pesado com a tensão causada pelo silêncio deles. Nenhum dos dois havia dito uma palavra desde o encontro com o capataz e seus homens, e a mente de Darius fervilha com um milhão de pensamentos enquanto ele caminha ao lado dela, acompanhando-a de volta até a vila. Darius gostaria de abraçá-la, de dizer como ele se sente grato por saber que ela está viva, grato que ela o tenha salvado assim como ele a tinha salvado – e contar-lhe como ele está determinado a nunca mais deixar que ela saia do lado dele. Ele quer ver os olhos dela cheios de alegria e alívio, quer ouvi-la dizer o quanto ela está feliz que ele havia arriscado a própria vida por ele – ou pelo menos, que ela está feliz em vê-lo.

Mas enquanto eles caminham em profundo silêncio, Loti não diz nada, e sequer olha na direção dele. Ela não havia dito nada para ele desde que ele tinha causado a avalanche, e nem mesmo tinha olhado nos olhos dele. O coração de Darius bate acelerado, e ele se pergunta o que ela está pensando. Ela tinha testemunhado a invocação de seus poderes e tinha visto a avalanche. Depois disso, ela tinha olhado para ele com um olhar horrorizado, e não falado com ele desde então.

Talvez, Darius pensa, aos olhos dela, ele havia quebrado o tabu sagrado de seu povo ao usar mágica, a única coisa que seu povo desdenha acima de qualquer outra coisa. Talvez ela tenha medo dele – ou ainda pior, talvez ela já não o ame mais. Talvez ela agora o considere algum tipo de aberração.

Darius sente seu coração se partindo enquanto eles caminham de volta para a vila, e se pergunta pra quê tinha feito tudo aquilo. Ele tinha acabado de arriscar sua própria vida para salvar uma garota que já não sente nada por ele. Ele daria qualquer coisa para ler os pensamentos dela agora – qualquer coisa. Mas ela não diz nada. Ela estaria em choque?

Darius quer dizer alguma coisa, qualquer coisa para acabar com aquele silêncio. Mas ele não sabe por onde começar. Ele tinha achado que a conhecia, mas agora ele já não tem tanta certeza. Uma parte dele se sente indignada, mas ele é orgulhoso demais para falar – considerando a reação dela – mas outra parte dele se sente envergonhada – ele sabe o que o seu povo pensa sobre a magia. Mas usar magia é mesmo algo tão terrível? Mesmo tendo salvado a vida dela? Ela pretende contar para os outros? Se os aldeões souberem, ele tem certeza de que será exilado.

Eles continuam caminhando, e Darius finalmente não consegue mais suportar; ele precisa dizer alguma coisa.

"Tenho certeza de que sua família ficará feliz em vê-la de volta em segurança," diz Darius.

Para sua grande frustração, Loti não aproveita a oportunidade para olhar para ele; em vez disso, ela permanece sem expressão à medida que eles continuam andando em silêncio. Por fim, depois de algum tempo, ela balança a cabeça.

"Talvez," ela diz. "Mas eu acho que eles vão ficar mais preocupados do que qualquer outra coisa. A vila inteira vai ficar."

"O que você quer dizer com isso?" Darius pergunta.

"Você matou um capataz. Nós matamos um capataz. O Império inteiro deve estar à nossa procura. Eles destruirão a nossa vila. O nosso povo. Nós fizemos algo terrível, foi um ato egoísta."

"Algo terrível? Eu salvei a sua vida!" Darius diz irritado.

Ela dá de ombros.

"A minha vida não vale mais do que a vida de todo o nosso povo."

Darius esbraveja, sem saber o que dizer enquanto eles continuam caminhando. Loti, ele está começando a perceber, é uma garota difícil de entender. Ela tinha sido criada de acordo com a forte doutrina e costumes rígidos dos seus pais e de todo o seu povo.

"Então você me odeia," ele fala. "Você me odeia por tê-la salvado."

Ela se recusa a olhar para ele e continua andando.

"Eu salvei você também," ela responde com orgulho. "Você esqueceu?"

Darius enrubesce; ele realmente não a compreende. Ela é muito orgulhosa.

"Eu não o odeio," ela finalmente responde. "Mas eu vi como você fez aquilo. Eu vi o que você fez."

Darius percebe que está tremendo por dentro, magoado com as palavras dela. Aquilo tinha soado como uma acusação. Não é justo, especialmente depois que ele tinha salvado a vida dela.

"E por acaso isso é algo tão terrível?" ele pergunta. "O tal poder que eu usei?"

Loti não responde.

"Eu sou quem eu sou," continua Darius. "Eu nasci assim. Não pedi por isso. Eu mesmo não compreendo isso completamente. Não sei exatamente quando começa e quando vai embora. Eu não sei se um dia serei capaz de usá-lo novamente. Eu não queria ter usado o poder. É como se… ele tivesse me usado."

Loti continua olhando para baixo, sem responder e sem encontrar os olhos dele, e Darius sente um profundo senso de arrependimento. Ele teria cometido um erro ao tê-la resgatado? Ele deveria sentir vergonha de quem ele é?

"Você preferia ter morrido ou que eu tivesse usado… o que quer que eu tenha usado?" Darius pergunta.

Mais uma vez, Loti não responde enquanto eles continuam andando, e o arrependimento de Darius se aprofunda.

"Não ouse contar isso a ninguém," ela diz. "Não podemos contar nada do que aconteceu aqui hoje. Ambos seremos exilados."

Eles fazem uma curva e a vila surge diante deles. Eles caminham pela estrada principal e logo são vistos pelos aldeões, que dão gritos de alegria.

Dentro de instantes, há uma grande comoção quando aldeões se aproximam para cumprimentá-los – centenas deles animadamente apressando-se para abraçar Loti e Darius. Abrindo caminho entre a multidão está a mãe de Loti, acompanhada por seu pai e dois de seus irmãos, homens altos com ombros largos, cabelos curtos e expressões de orgulho. Todos olham para Darius, analisando-o. Ao lado deles, está o terceiro irmão de Loti, menor que os outros e manco de uma perna.

"Meu amor," a mãe de Loti fala, correndo através da multidão para abracá-la com força.

Darius fica um pouco atrás, sem saber ao certo como agir.

"O que aconteceu com você?" a mãe dela pergunta. "Eu pensei que o Império a tinha levado. Como você conseguiu escapar?"

Os aldeões se silenciam, ficando sérios, e todos os olhares se voltam para Darius. Ele fica ali parado, sem saber o que dizer. Aquele deveria ser um momento, ele sente, de grande alegria e celebração – um momento para sentir-se orgulhoso, para ser recebido de volta em sua aldeia como um herói. Afinal de contas, ele havia – sozinho – tido a coragem de partir em busca de Loti.

Em vez disso, aquele é um momento de profunda confusão para ele. E talvez até de um pouco de vergonha. Loti lança um olhar significativo na direção dele, como se quisesse adverti-lo para não revelar seu segredo.

"Não aconteceu nada, mãe," Loti responde. "O Império mudou de ideia. Eles me soltaram."

"Eles a soltaram?" ela repete boquiaberta.

Loti assente.

"Eles me soltaram muito longe daqui. Eu estava perdida na floresta, e Darius me encontrou. Ele me trouxe de volta."

Os aldeões, em silêncio, olham com ceticismo para Loti e Darius. Darius pressente que nenhum deles acredita naquela estória.

"E o que é essa marca em seu rosto?" o pai dela pergunta, dando um passo adiante e passando a mão na bochecha dela ao mesmo tempo em que vira o rosto de Loti para examiná-lo melhor.

Darius olha para ela e vê o vergão roxo em seu rosto.

Loti olha para o seu pai, sem saber como responder.

"Eu… tropecei," ela diz. "Em uma raiz. Como eu já disse, estou bem," ele insiste desafiadoramente.

Todos os olhares se voltam para Darius e Bokbu, o chefe da vila, dá um passo à frente.

"Darius, isso é verdade?" ele pergunta com a voz grave. "Você a trouxe de volta pacificamente? Não houve qualquer confronto com o Império?"

Darius permanece ali, com o coração aos pulos, enquanto centenas de olhares o encaram. Ele sabe que se contar a eles sobre o confronto – se contar a verdade sobre o que ele havia feito, todos viverão com medo da inevitável represália. E sem ter como explicar como havia matado todos eles sem mencionar o uso de magia, ele acabará exilado – assim como Loti, e ele não deseja criar pânico em meio ao seu povo.

Darius não quer morrer, mas ele não sabe o que mais fazer.

Então, Darius simplesmente assente para os anciãos e não diz nada. Deixe que eles interpretem sua resposta como bem quiserem.

Lentamente, os aldeões – aliviados, se viram e olham para Loti. Finalmente, um dos irmãos de Loti se aproxima e coloca um braço em torno dos ombros dela.

"Ela está bem!" ele grita, acabando com a tensão. "Isso é o que importa!"

Um grito de alegria irrompe na vila quando a tensão se dissipa, e Loti é abraçada por sua família e amigos.

Darius fica parado observando a cena, recebendo tapinhas de aprovação nas costas enquanto Loti se afasta sozinha com sua família e entra na vila. Ele a observa se afastar, esperando e torcendo para que ela se vire e olhe para ele, ao menos uma vez.

Mas seu coração se aperta ao vê-la desaparecer no meio da multidão, sem nunca olhar para trás.

CAPÍTULO NOVE

Volúsia se senta orgulhosamente em seu trono dourado em cima de sua embarcação dourada que brilha sob o sol, flutuando lentamente pelas hidrovias de Volúsia com os braços abertos, saboreando a adulação de seu povo. Milhares de pessoas a observam, correndo para perto da água, acumulando-se nas ruas e becos e gritando o nome dela de todas as direções.

À medida que ela flutua pelos canais estreitos que cruzam a cidade, Volúsia poderia esticar o braço e tocar o seu povo, que grita o seu nome chorando e gritando, admirando-a enquanto jogam pequenos pedaços de papel de diferentes cores, que brilham sob a luz e caem em volta dela. Aquele é o maior sinal de respeito que o seu povo poderia lhe oferecer. É uma forma de receber de volta um verdadeiro herói.

"Vida longa à Volúsia! Vida longa à Volúsia!" dizem eles, em um coro que se repete em todos os becos à medida que ela atravessa as massas, sendo levada pelos canais através de sua magnífica cidade – com suas ruas e prédios cobertos de ouro.

Volúsia se inclina para trás e absorve tudo, feliz por ter derrotado Romulus – por ter aniquilado o Líder Supremo do Império e assassinado seu exército de soldados. Seu povo a apoia, sentindo-se fortalecido por seu poder, e ela nunca havia se sentido tão poderosa em toda a sua vida – não desde que havia matado sua própria mãe.

Volúsia olha para sua imponente cidade, admirando os dois pilares altos que dão acesso a ela, brilhando em tons dourados e verdes sob o sol; ela absorve as infinitas fileiras de prédios antigos, erguidos na época de seus ancestrais, todos com centenas de anos e já muito gastos. As ruas brilhantes e impecáveis estão repletas de milhares de habitantes, há guardas em todas as esquinas e os canais atravessam as ruas em ângulos precisos ligando todas as áreas da cidade. Há pequenas pontes sob as quais cavalos puxam carruagens douradas, onde pessoas vestindo suas melhores roupas e joias observam tudo. A cidade havia declarado um feriado, e todos haviam saído para recebê-la, gritando o nome dela naquele dia santo. Ela é mais do que uma líder para eles – Volúsia é uma deusa.

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